quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Ô, menina


As palavras que ela usa
Distribuídas numa teia
São como dúzias de búzios
Enterrados na areia

Como uma onda marota
Numa tarde ensolarada
Eu descobri daquela areia
Suas conchas fraseadas

E ela era tão polida
Como pedra lascada
Com palavras tão bonitas
Em n linhas rimadas

Ô, menina, tu me encanta
Com teu jeito de escrever
Com essa nudez de alma
Enfim, com todo esse teu ser

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Desnuda-se


Eu passaria o dia inteiro
Admirando sua nudez.
Não somente a corporal:
A nudez do que tu sentes,
Cada sentimento teu do
modo como veio ao mundo;
Tuas ideias, teus ideais,
sem capa e sem capataz.

Ai, essa tua nueza...

Tira o batom que cobre esse sorriso.
Deixa-o nu.
E todas essas manchas que cobrem
a natureza do seu rosto,
seu corpo
o canto do seu olho...

Descobre-se para mim
Descubro-me para ti.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

E lá vamos nós...


         É, bichão. Mais um ano vai chegando ao fim. Mais um fim de ano pra fazer promessas que possivelmente não se cumprirão no ano que vem. Eu fiz tudo que, no ano passado, disse que iria fazer? Provavelmente não, mas fiz algo diferente, algo que nunca prometo fazer, porque sei que acontece, de um jeito ou de outro: conheci pessoas. Todas especiais.
         Na ida ao supermercado pra comprar a água sanitária que Paula, a diarista daqui, disse que estava faltando na última visita que fez, pensei nas pessoas que conheci e criei um vínculo que carregarei comigo por muito tempo. Gosto delas, e gosto de observá-las, mesmo que não seja algo tão agradável (pra elas). Pensei no garoto poeta que não só escreve um mundo melhor, mas também o transforma em cena, parte do real. Pensei também na menina que filmará um fim do mundo em rosas e abraços apertados, e eu estarei em uma das fileiras da sala de cinema, encantando-me com sua arte.
         Mas pensei principalmente naquela moça bonita que me lança sorrisos tímidos e me fala com uma voz baixa sobre o que gosta de assistir. Ela escreve também, e muito bem, por sinal. E me encanta de uma forma indescritível na sua simplicidade. Falarei mais sobre em outras linhas, outro post. Esse será sobre chegadas, partidas e um pouco do que eu quiser, porque esse blog é meu. 
         É sempre assim nos finais de ano: me despeço dos daqui e vou ao encontro dos de lá. E, junto com essas partidas e chegadas, vem à tona uma frase que já citei neste blog: a gente sempre está com saudades. Você deixa em saudades alguns e parte para acabar com a de outros. Dessa vez levarei mais algumas saudades, mesmo da garota com quem só tive umas cinco ou seis conversas. 
         Já até prevejo a chegada na minha cidade: as luzes enfeitando as noites, as árvores, as janelas das casas e o cheiro do Natal, (sim, Natal tem cheiro), invadindo todas as ruas. Eu sei que pode ser fantasioso, escrever algo assim sabendo que muita gente apenas finge se gostar, muitos só querem manter a aparência de felicidade, e sei também que muitos não terão o calor de um abraço, terão apenas o frio das sarjetas. Esse deveria ser o tempo de todos serem felizes. 
         Confesso que me perdi nos pensamentos e peço até desculpa. Já escrevi demais e estou com um filme pra rever aqui engatado, vou concluir então despedindo-me dos amigos que deixarei aqui temporariamente, e que não se preocupem que eu voltarei. Não sei se melhor, pior, provavelmente do mesmo jeito. Só sei que vou tomar muita cerveja nessas 'férias'.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Rumo sem rumo

Não tenho rumos
Não faço planos
O que ainda vem
não me pertence

Sigo apenas seguindo
Cansando, descansando
Sentindo o vento bater

O que ainda vem
não é meu
pra eu acertar
os pontos
os contos
os encontros que
terei lá na frente.

Por isso apenas
sigo seguindo
Caminhando na calçada,
bebendo minha cerveja,
beijando algumas garotas
e escrevendo versos íntimos. 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A filha que não existiu

            Ana acordou suando naquela manhã de sexta-feira. Lembrava do sonho horripilante que tivera na noite passada e não parava de pensar nele. Enquanto se arrumava, ouvia claramente uma risadinha infantil, maldosa, de criança que acabou de aprontar. Precisava ir à aula e já estava atrasada.
            Arrumou-se rapidamente e cantarolou alguma canção, na tentativa de esquecer o sonho. Mas ela sabia que, de acordo com o que sonhara, o pior ainda estava por vir. Trancou a porta de casa e encarou o corredor que levava até a escada. Podia ouvir o próprio coração bater. De novo todas as lembranças do sonho voltaram à cabeça dela e o nervosismo tomou conta de Ana.
            Respirando fundo, ela deu o primeiro passo, e como não ouviu nada, deu o segundo. Caminhou devagar até chegar no primeiro (ou último) degrau da escada. Desceu um e parou de repente: era a risada de novo. Aquela risadinha de criança sapeca, que acabara de aprontar. Com o coração aos pulos, Ana desceu mais um degrau e dessa vez foi pior: sentiu um sopro leve na nuca. Por mais que Ana soubesse o que viria a seguir, não conseguiu se conter.
            Virou devagar e, ao se deparar com aquela menina, aquela mesma que invadiu seus sonhos, não conteve um grito de terror. A menina usava um vestido todo vermelho, tinha a pele branca como leite e dos seus olhos saíam sangue escuro. Os cabelos, sem nenhuma coloração, só afirmavam o que Ana sabia: aquela garotinha não tinha vida. Ana não conseguia mover o corpo e sem mais nem menos, a linda menina tocou-a na mão. O que queria? Será que Ana tinha pego algo dela?
            A menina retirou a mão da mão da vítima e se afastou devagar, o rosto completamente mudado. Ana agora podia se mover, mas não adiantou muito. O medo foi tão grande que ela não viu o degrau e tropeçou no vazio, caindo bolando na escada, até bater com a cabeça no chão. A última visão dela foi aquele vulto vermelho sumindo no ar, como some a fumaça quando se dissipa. Ana, enfim, livrou-se do medo.

O beijo e a cerveja

A cerveja é como o beijo:
Vai de uma boca à outra
Provocando sensações

Gelada no começo
Ela esquenta gradualmente
Enquanto batem corações

Cada gole, como o beijo
Desce pela garganta
E invade o outro ser

Cada beijo, fogo intenso
Incendeia o corpo alheio
De quem dele quer beber

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Doce veneno de Aurora

Dos cabelos dela descem rios
Que regam o seu florescer
E esfriam um corpo quente
O mel dos olhos dela escorre e adoça os lábios
Os quais busco incessantemente.
E mergulhado até o último gole
nesse doce veneno
Faço do seu corpo uma cura
Que me cura do efeito causado em mim
De não querer me curar de ti
De todas as curvas por onde deslizo
Onde busco deslizar.
Ela tem a ressaca dos olhos de Capitu.
O mistério da amada morta de Poe.
A sensualidade de Marilyn Monroe...
E o desejava a toda hora
O doce veneno de Aurora.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Lágrimas no papel


"Nem o mais escaldante deserto seria pior que a minha culpa.
Nem a noite mais gelada faria jus ao frio do meu coração, quando tirei tal vida.
Era um homem inocente! São crianças inocentes que perdem o pai.
Foi morto apenas por querer paz, serenidade. Foi morto por ninguém.
Porque é assim que eu me sinto agora, enquanto escrevo, querido leitor: sou ninguém!
Nem a estrada mais longa fará com que eu esqueça dessa culpa que agora me segue onde quer que eu vá.
Inferno, Purgatório, Paraíso. Quem sabe onde eu estou agora?
Nenhum deus, se é que eles, de fato, existem, perdoar-me-ão por tal ato.
Meus passos afundam na areia: é o peso na minha cabeça, nos meus ombros.
O peso de tirar a vida de alguém. Afinal, o que sou eu?
- Ladrão! - ouço no fundo da minha mente.
Minha penitência nesse chão solitário será eterna.
Tirei a vida da única pessoa que me mantinha vivo: eu mesmo."


Lágrimas caíam sobre o papel, enquanto Juliana terminava de ler as palavras do ex-marido. Enquanto isso, um corpo pendia do teto com uma corda no pescoço. Mais uma vida era oferecida à Morte.

domingo, 21 de setembro de 2014

Do Rei de Candul

Parte II - O Rei

Vou contar-vos esse conto
Que há pouco eu vos citei
É o conto de um tonto
É o conto de um Rei

Vindo de família rica
Ele sempre quis reinar
Ubaldo de Fonseca e Sica
Um grande reino quis herdar

Sua vida foi planejada
Pela cabeça dos dois pais
E Ubaldo, sem voz à nada
Não queria isso mais

De um pai herdaria a empresa
E do outro uma associação
Mas o filho, para sua surpresa
Era mestre em criação

Era bonito aquele moço
Tinha os olhos sem igual
Com um lenço no pescoço
Sentia que era o tal

Mas os olhos de menino
Não enganavam a ninguém
A crueldade era o seu hino
Do mal Ubaldo era refém

Obrigou nove moças
A com ele se deitar
Enquanto ele tivesse forças
Elas iriam aguentar

Eram cinco mais ferventes
Para as noites de inverno
E eram quatro entorpecentes
Para atravessar o Inferno

Os cachorros lá da rua
Por ele longe passavam
E nas noites de cheia lua
Contra ele conspiravam

Cresceu a ser mimado
Pelo amor dos pais que têm
Mas depois trocou de lado
Fez o mal em vez do bem

No seu quarto, solitário
Criou um mundo doentio
Onde o quente e solidário
Tornou-se egoísta e frio

Seu prazer, ficou bem claro
Era a dor e os gemidos
Contratou o carrasco Iláro
Para alguns dos oprimidos

Mantinha todas as mulheres
Para sofrer em suas mãos
"Podes gritar o quanto quiseres
Que serão teus gritos vãos"

Chega agora a esse fim
Essa parte da estória
Desse reino de marfim
De um Rei e sua glória

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Do Reino de Candul

Parte I - Introdução

Já vai um mês nessa vida
E eu não me acostumei
Era uma passagem só de ida
E foi bem caro que paguei

A solidão aqui engole
Toda a minha vida sã
Se embriaga, gole a gole
Da noite até a manhã

Viajei por várias horas
Sob um imenso céu azul
Pelos campos de amoras
Pelas curvas de Candul

Mal cheguei já fui invadido
Por um flash de horror
Era um homem dividido
Entre o fascínio e o amargor

De tudo eu vi um pouco
Muito não queria ver
Como alguém é tão louco
A ponto de buscar sofrer?

"A dor a gente nem mais sente
Nada passa de prazer"
Disse um homem, todo contente
E eu sem nada entender

Como de alguma forma
Se tira alegria em se ferir?
Quem criou tão horrível norma
E quem os obriga a seguir?

Tinha agora um motivo
Para me encontrar com o Rei
Como um ser tão abusivo
Permitiu aquela lei?

Acontece que fiquei sabendo
Do que antes não sabia
E o que soube é tão horrendo
Que sabê-lo não mais queria

Um homem grande de torto riso
Quis num reino reinar
E construiu um Paraíso
Para todos nele morar

"Quem quiser aqui viver
Será tratado como irmão
Mas quem me desobedecer
Sofrerá uma punição"

Não entendo, de verdade
Como fui me aventurar
Nessa triste realidade
Onde é proibido amar

Mais uma vez me adiantei
E pulei um conto da história
Era a história de um Rei
Que inventou a própria glória.

E termina por aqui
Essa breve introdução
Partirá também daqui
O fim dessa produção.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Coração suburbano

Queria escrever uma série de textos sobre mim. Minhas manias, meus medos, as dúvidas que rondam minha cabeça e as certezas que deixo de ter a cada instante, além das que não somem. Quatro, cinco, cada um com um tema, mas nunca fui bom em separar minha vida em temas. São poucas as certezas que tenho para escrevê-las em páginas eletrônicas, e muitas as dúvidas. Tá aí um tema que talvez desse certo: dúvidas.

Eu tinha até título para tais textos, 'Coração suburbano' tirado de uma música da Legião Urbana, e que usarei nesse só porque já foi pensado. Como sugere o título, seriam textos sobre escolhas feitas (e não feitas também), por um jovem nada conhecedor da vida, como são todos os jovens. Pra falar a verdade, muitos são arrogantes, acham que sabem tudo, mas só quando estão por trás de uma rede social, de um jogo eletrônico qualquer, com aquele velho hack.

O que seria um coração suburbano? Sei lá! Precisamos mesmo rotular até como consideramos nosso coração? Na canção, Renato Russo cita um verso que creio ter realmente a ver com o a razão de considerar suburbano o meu coração: "temos muito que aprender". Talvez seja um defeito, um adjetivo que indique, nesse caso, um coração falho, ou não satisfeito, quando ele diz "mas meu coração suburbano, espera riquezas maiores", talvez até prepotente. Quem nunca se sentiu escravo do próprio coração, ao menos uma vez na vida? Esse alguém teve sorte!

Eu nem queria escrever 'coração' de novo aqui, mas como o chamaria, senão dessa forma? Órgão torácico? Aquele amigo teimoso que tende a se apaixonar por quem já tem dono? Não. Mas, prosseguindo... O meu coração, no momento, está indeciso. Não no sentido de querer ser domado por alguma garota, não é só disso que este órgão trata (olha, eu troquei a palavra). Talvez nem seja assunto para ele, mas é um intrometido esse coração, quer se meter onde não é chamado! 

Quanto a amores, ele está em paz. E eu fico feliz por isso. Não que ache algo ruim apaixonar-me, até porque já estive 'in love' por uma guria linda. Mas sim por estar envolvido em outras histórias, tenho outras dúvidas para tornar certas, aqueles problemas que todos temos de lidar, e, de preferência sem um 'tum-tum' acelerado no peito. Quanto às outras histórias, são todas criadas, em nenhuma delas sou personagem e é nisso que quero me envolver por enquanto.



Deixarei o link da letra da música para quem se interessar
Uma Outra Estação 

domingo, 27 de julho de 2014

Dança de Cigana - Parte IV

Ouro e luz

fonte da imagem: http://kirkovits.blogspot.com.br/2010/12/alma-de-crianca.html 

   Lá estava ela sentada no banco do parque, observando o movimento da cidade lá embaixo. Já era de lei que nossos encontros acontecessem por acaso, como se estivessem escritos em linhas de diferentes páginas de um grande livro. O livro das nossas vidas. Se é que você, caro leitor, acredita que exista um livro onde as vidas estão distribuídas em linhas e capítulos.

   Eu conheceria de longe aquela áurea que reluzia dela, aquele brilho incandescente dos seus olhos derretidos. Porque se aquilo não fosse ouro derretido, então que me batam na cabeça. Não me surpreenderia se ela virasse e me olhasse, sorrindo, dizendo que me atrasei, porque era como se aquela garota tivesse visitado toda a narrativa dessa história, mesmo não sendo uma. Mas não virou.

   Aproximei-me devagar e a toquei no ombro, senti-a se arrepiar. Era a primeira vez que a encontrava parada, sem fugas ou luzes, apenas duas pessoas. Ela me olhou: senti o calor dos olhos delas penetrando minh'alma e aquecendo tudo por dentro, até os meus olhos de cobre frio esquentaram naquele momento. Sorrindo para mim, disse: "chegou atrasado". Dei uma risada e continuei olhando para ela - como se eu conseguisse não olhar. Ela afastou um pouco, indicando para que eu me sentasse e observasse com ela o fim da tarde, acima da cidade grande. 

   Perguntei como ela sabia que eu estaria ali, e ainda mais que eu chegaria atrasado, porque tudo aquilo para mim foi coincidência. Ela disse simplesmente: "estava escrito". Era inevitável nos encontrarmos novamente, principalmente porque eu a procurava, buscava-a nos sonhos, refazendo os passos de quando a encontrei outras vezes. E, quando parei de repetir tais passos ali estava ela, visualizando as páginas desse livro que é a vida, adivinhando que eu a encontraria, por ter saído daquela rotina de busca, e chegaria atrasado a esse encontro, por só então perceber que ela já estava dentro de mim.

   Isso mesmo. Ela, toda luz e ouro, aquela garota que me fez dançar no seu ritmo, permitiu-me encontrá-la fora da lógica do cerca trova*, fora do lado de fora de mim mesmo. Quando percebi que ela estava o tempo todo na minha cabeça, deixei-me ir ao encontro dela, e por sorte encontrei-a lá, com seus olhos e seu brilho, e toda sua alma de criança. Beijei-a.



*cerca trova (italiano): em português significa 'busca e encontrarás'.

sábado, 28 de junho de 2014

Jogo duro, final feliz

Oitavas de final. A seleção brasileira jogou hoje contra o Chile, um jogo de vida ou morte, onde nossa seleção saiu vitoriosa nos pênaltis, por 3 a 2. Uma partida onde os milhões de brasileiros seriam tão decisivos, quanto os 11 que estavam em campo. Um em especial. Antes do início do jogo o clima era leve. Pais passeando com seus filhos pelo shopping, outros já começando os trabalhos com o primeiro chopp.
 
Os jogadores entram em campo e se posicionam para os respectivos hinos, e a emoção já começa daí. Em ambos, a torcida não deixou a canção morrer ao fim dos segundos ordenados pela FIFA. As mesas vão enchendo mais rapidamente, todos cantando juntos. Chegam os amigos à mesa, começam as análises e as certezas sobre a preferência de Maicon na direita, no lugar do Dani Alves. 

Hulk pega a bola e entra na área, a torcida se levanta, já esperando o gol, mas, num toquinho do zagueiro Isla, o atacante paraibano desaba pedindo pênalti. O árbitro não dá nada, a torcida reclama. Falta para o Brasil perto da área, Hulk cobra e o goleiro manda pra escanteio, os ânimos exaltam, era o pressentimento pra festa que estava por vir. Um dos presentes na praça de alimentação gritou: "é agora!", e foi. Depois do escanteio cobrado, nosso capitão desvia e numa dividida entre David Luiz e Jara, a bola entra. 

Não houve uma só garganta que não explodisse com vibrações vocais um grito de "gol" alto e prolongado, para ser ouvido até nas cordilheiras, um grito pra incomodar o vizinho chato e carrancudo. Sem sorrisos no rosto, sem esperança no olhar. Um só gol pra juntar as pontas do país.

Porém, meus amigos, como o futebol não é só técnica e improviso, pintou a sorte chilena, numa falha da zaga brasileira, o atacante Alexis Sánchez entra livre na área e empata o jogo. Comentei com os amigos, até, algo visto em uma das minhas aulas: no futebol, durante todo o decorrer do jogo, você sai da tensão pro alívio, e volta à tensão mais uma vez, temendo e festejando o espetáculo futebolístico. 

Depois foi muita pressão. O segundo tempo não teve gols, quer dizer, teve, mas foi (mal) anulado. E como negar isso, quando dezenas de árbitros, sentados em diversas mesas, não viram o que foi visto pelo Sr. Howard Webb: um domínio com o braço do Hulk, jogada que resultaria no segundo gol brasileiro, caso fosse validado.

Como qualquer torcedor ali presente, sofri até o fim: coração inquieto, tensão aumentando, nervos à flor da pele. Cada bola desperdiçada era um "Uuuh..." gritado em conjunto pela torcida. E quando o Chile chegava perto da nossa área, havia uma frase sempre repetida "afasta daí, cara!". Passaram-se assim os minutos até o fim de todos os tempos possíveis, até o momento onde só coração forte aguenta, e olhe lá!

O goleiro Julio Cesar, que atua no Toronto F.C., time canadense, antes de começarem as cobranças, deixou claro e confiante para Thiago Silva: "vou pegar!". O primeiro a bater foi David Luiz. A torcida nas mesas batia palmas e gritava "Gol! Gol! Gol!". Com certeza deu pra sentir a energia lá em Belo Horizonte, porque o resultado não foi outro: primeiro pênalti dentro do gol. Lembram da fala do nosso goleiro, né? Pois sim, antes da cobrança de Pinilla, todos gritavam o nome dele na praça de alimentação: "Julio Cesar! Julio Cesar". As mãos de milhões se juntaram às dele. Defendeu.

Não pude ver o chute pra fora do Willian, estava fotografando os torcedores apreensivos, esperançosos, mas percebi o erro dele pela reação das pessoas ali. Mas, no instante seguinte, estavam todos festejando de novo mais uma defesa de Julio Cesar. 

A partida foi tão dramática, parecia até jogo de final. Se bem que, nessa fase de mata-mata, todo jogo é, particularmente, uma final.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Quente como o sol

fonte da imagem: http://boutichic.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html 

    Estava com ela, ali, deitada ao meu lado, com a cabeça em meu peito, conversando sobre alguma coisa que nem me lembro mais. Sei que ríamos muito, e era bom. Eu gosto muito da risada dela, sempre gostei de ouvi-la gargalhar perto do meu ouvido, de paralisar os olhos em cima dos dela, e vê-los recuar, tímidos.
 
    Era uma paixão dela quando eu a fazia rir, quando minha mão tirava uma mecha do seu rosto, levando-a pra trás da orelha, num afago em câmera lenta. E aquela menina também me conquistava, ora com seus beijos temperados de desejo, ora com seu toque, quente e terno, na minha pele dura, meio homem, meio fera. Mas nada podia bater os seus olhos felinos, selvagens, indomáveis e serenos, tudo ao mesmo tempo.

    Depois de recuar os olhos, ela fazia outro movimento, e eu adorava: estreitava-os e me mirava com uma profundidade, que só faltava me ver a alma! Sentia-me nu perto dela. Mas não de roupa, e sim de segredos. Era como se me visse todas as verdades, tudo o que havia em mim poderia refletir nos olhos dela. Talvez até mesmo de roupas, estamos todos nus por baixo mesmo. Sei que ela via através de mim, e parecia ler meus pensamentos, pareceu sentir a intensidade no meu olhar, no meu sorriso meio de lado.

    Sabe por que eu sei disso, caro leitor? Porque no momento seguinte ela já se erguia, e crescia ainda mais por cima de mim, e como dentro de si tinha ainda, e sempre terá essa criança, jogou-me o lençol na cara, e, deitando-se lentamente, como que sentindo cada parte se juntando à do outro, colou seu corpo ao meu. Senti sua respiração acelerar, seu peito bater mais forte contra o meu, quando agarrei sua cintura fina, e ela me beijou. Finalmente eu provava daquele tempero, ardente, como um prato de chili mexicano. Era todo o desejo de um se unindo ao do outro, preparando um prato que seria consumido em alguns minutos, quente como o sol.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Dança de cigana - Parte III

Toda feita de luz

fonte da imagem: galeriadefotos.universia.com.br/uploads/2014_02_27_16_04_340.png

   Passei a noite relembrando aquele nosso encontro de fim de tarde, tudo aleatório, como foi a primeira vez que a vi. Lembrei seus olhos, sua boca, uma sedução só. Quase não dormi e quando enfim consegui foi com ela que sonhei.
   Ela estava sentada numa cadeira, com uma roda de amigos nossos, e eu em pé, atrás dela, tocando seus ombros, como numa massagem. Eu já vinha há alguns dias tentando beijá-la, mas sem êxito, ela sempre brincando comigo, sempre me colocando na sua dança. Seus olhos não escondiam o divertimento que era essa brincadeira, esse passo envolvente, e eu sempre entrava nele. Até nos sonhos.
   Passou-me mais um dia e eu ainda não sabia um meio de encontrá-la que não fosse ao acaso. Não por ser ruim os encontros do jeito que são, mas depender de um evento aleatório para rever aqueles olhos era deveras decepcionante. Eu caminhava pelos lugares onde a vi da última vez, na esperança de conseguir algum meio de vê-la, nem que fosse uma brincadeira do meu cérebro, ou outro déjà vu.
   Noutra noite de sonhos belos, com aquelas estrelas castanhas iluminando a escuridão, seu rosto me apareceu como o do Gato de Cheshire*, mas com olhos castanhos. Seu sorriso chegava a paralisar o meu funcionamento cerebral, e eu perdia todo o controle da respiração e das batidas do coração.
   Eu seguia aqueles olhos onde quer que estivessem indo. Sabia que ela estaria lá comigo, não importando onde desse aquele caminho. De repente, como que um relâmpago iluminando a noite, ela se fez luz na minha frente. Sua boca em forma de beijo me convidava a entrar naquela dança, naquela sedução. Eu ainda imaginava qual seria o gosto daquele beijo. 
   Ao seu redor tudo começava a se iluminar, tanto pelo brilho dos seus olhos, como de toda a luz que era ela. Aproximei-me devagar, o corajoso eu, enfrentando todo aquele brilho, minha visão quase cegando perante ela, toda luzes e branca, com seus olhos castanhos. Peguei sua mão e seu toque era como porcelana, frágil, delicado, cheguei mais perto e encostei minha boca na dela. Podia não ter sabor nenhum, mas o toque de seus lábios, macio, suave, era de uma leveza tão grande, que nem percebi quando acordei em minha cama. Na minha mente, só a lembrança dela, e ela toda luz. Toda feita de luz.





*Se você não sabe quem é, tá na hora de rever um dos clássicos da infância de muita gente: Alice no País das Maravilhas.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Olhos felinos (Meu Capitão)


Quando me olham, paraliso
Me perco no tempo, sem aviso

"Oh!, Capitão, meu capitão"*:
Permita-me vê-los em sonhos
E nos dias enfadonhos
"Oh!, Capitão, meu capitão"...

Tão estreitos, pequeninos
São seus, os olhos felinos

"Oh!, Capitão, meu capitão"
Não me deixe morrer antes de ver
Esse brilho nos olhos me enternecer
"Oh!, Capitão, meu capitão"...

Todo um castanho misterioso
Junto ao teu riso, todo gostoso

"Oh!, Capitão, meu capitão"
Permita a mim ouvir outra vez
Essa risada de embriaguez
"Oh!, Capitão, meu capitão"...

Oh, Capitão, querido capitão
Vais me permitir, sim ou não?

Pois ele (o amor) se apresentou
E causou seu efeito
E só de amor o
amor é feito.

"Oh!, Capitão, meu capitão"
Fica aqui o meu apelo
Capitão, Oh!, meu capitão...




*Frase citada no filme "Dead Poets Society" (Sociedade dos Poetas Mortos) pelo prof. John Keating, interpretado pelo grande Robin Williams. 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Dança de cigana - Parte II

Um mistério à parte


fonte da imagem: http://tulipasnajanela.blogspot.com.br/2011/04/eu-amo-beleza.html

   Ainda estou alucinado com o que me aconteceu ontem. Eu a encontrei por acaso na rua e fiquei chocado com a sensação de déjà vu percorrendo meu corpo.
   Ela vinha na direção contrária, descendo a rua com umas amigas. O sol estava se pondo atrás de mim, brilhando seu fogo naquele castanho derretido que eram os olhos dela. Quase incendiavam o próprio sol. Ela lançou-me um sorriso de canto de boca e a minha mente inundou-se com lembranças desses momento que acabara de acontecer. 
   As cores e círculos do seu vestido começaram a confundir e fazer girar minha cabeça, e tudo piorou quando olhei seus olhos: eles pegavam fogo! "Amanda", sussurrei seu nome para mim mesmo de dentro da minha cabeça. Era eu lembrando a mim desse encontro e antes de ele terminar, já o tinha visto passar todo por trás dos olhos. Já o tinha envolvendo minha mente.
   Foi então que, tirando-me da lembrança daquele momento, o qual acabara de acontecer, ouvi uma voz chamar: "Amanda!" E ela virou a fim de ver quem chamava seu nome. Seu olhar brilhava intensamente, como o próprio sol, ou até mais. Eram duas bolas de ouro derretido. Sua mão me acenava e só então percebi: eu tinha dito o seu nome. Fora eu quem a chamou. Mas como, se a única vez que a vi foi naquele show? Como eu saberia o nome daquela garota? E por qual motivo ela não estranhou eu o saber, se não tinha perguntado? 
   Ela tinha esse olhar misterioso, algo em seu sorriso me remetia a um lugar cheio de paz, uma viagem. Era como se eu vivesse minha própria vida diversas vezes, em um ciclo eterno, onde cada déjà vu tentava me fazer recordar (e acordar) à uma realidade diferente dessa que vivemos. E ela... ela parecia saber de tudo, porque continuava brincando.
   Quando voltei dos meus devaneios a noite já tinha caído e ela não estava mais ali. Ela, com aqueles olhos castanhos, tão lindos quanto os verdes e azuis. Claros, escuros, quentes ou frios. Os dela eram incandescentes, eram dois faróis os olhos dela. Ela, um mistério à parte.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

As fases de Amanda: Fazendo contato

Parte I
Fonte da imagem: http://neoqeav-ira.blogspot.com.br/2011/02/ha-uma-mulher.html

   Deitada na cama, Amanda ouvia suas músicas no fone e, como sempre fazia, dançava por todo o quarto. Pulava na cama, no chão, ia até a janela e olhava para a rua e depois para a lua. Lembrou-se então do convite de suas amigas prum show na praça e decidiu se arrumar.
   Escolheu a roupa que iria: short curto e uma blusa, até porque não era nenhum evento especial ou de família, assim não precisaria de tanto luxo. Pegou a toalha e entrou no banheiro, ainda dançando com a música em seus ouvidos. Tirou os fones e deixou Smiths tocando num criado mudo ao lado da banheira, onde a água já enchia o espaço vazio.
   Tirou a roupa devagar, deixando escorregar o short que estava usando. Seu corpo alto, magro e nu na frente do espelho revelava algumas marcas do passado que Amanda preferia não lembrar. Seu quadril não era tão largo, e isso era estranho, tendo ela uma idade onde o corpo já está bem formado, além também dos seios pequenos. Seu cabelo longo e liso poderia escondê-los se colocados para frente.
   Entrou na banheira e deitou seu longo corpo ao fundo, sentindo-se relaxar pela água fria. Prendeu a respiração e mergulhou a cabeça, encharcando todo o seu cabelo castanho. Brincava com a água, fazendo ondinhas para lá, para cá... esquecendo-se do tempo enquanto relaxava no banho. Depois de se ensaboar, esfregando com uma esponja suas pernas, braços, etc. e lavado o cabelo, levantou-se, deixando escorrer por suas poucas curvas os problemas que desciam junto com a água. Arrepiou-se com um vento frio vindo lá de fora e se lembrou da janela aberta.
   Ela recordou então o pesadelo tido há alguns meses, onde um homem de olhar fundo aparecia na janela e a voz dele no celular ainda era clara: "não quer dançar comigo, Amanda?", então veio a cabeça o encontro deles dois na festa. Será que ele a encontraria de novo? Estaria ele esperando por ela em alguma esquina? Já fazia tanto tempo desde a última vez... ela torcia pra resposta ser 'não'. Enfim puxou a toalha e se enxugou, enrolando-a a seu corpo, depois pegando outra para enrolar o cabelo e foi pro quarto. Depois de pronta, Amanda pegou o celular e avisou às amigas: "to descendo, té la."
   Dançava com as amigas, seu cabelo longo balançando e uma taça de Vodka Martini na mão. Sentiu seu celular vibrando na bolsa e o retirou, tendo um súbito pavor ao lembrar da última vez que recebeu sms numa festa. "Não é ele, Amanda. Ele sumiu, foi embora!" Mas ela não podia saber se ele tinha realmente sumido, se a tinha deixado em paz. Sentiu a respiração ofegar e começou a olhar para os lados. Nem tinha lido a mensagem ainda, talvez nem quisesse ler, só esquecer aquele medo e ir se divertir. Infelizmente para Amanda, sua curiosidade era maior e ela abriu a mensagem: "Voce esta linda Amanda :)". Foi o bastante pra o pânico subir em seu peito e seus olhos saltarem de canto a canto na festa, procurando quem poderia ter enviado a mensagem.
   De repente ela viu: um homem de olhos fundos com um celular na mão, não muito longe, olhava fixamente pra ela, sorrindo friamente. Ele pareceu notar os olhos nervosos de Amanda quando encontraram os dele, pois começou a traçar o caminho até ela, que, amedrontada, chegou perto da sua amiga, dizendo: "meu Deus, o creepy está aqui." Amanda levou suas amigas para outro lugar, esperando assim fugir do homem que há tempos a assustava e conhecia seus passos. Por um momento conseguiram despistá-lo, mas, então, uma voz rouca soava em seu ouvido: "Você tem medo de mim, Amanda?"

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Dança de cigana - Parte I

A moça dos olhos de ouro

fonte da imagem: http://jconsultoriadecosmeticos.blogspot.com.br/

   A primeira vez que a encontrei foi numa noite de festa, quando seus grandes olhos perdidos na multidão fitaram os meus por acaso. Isso foi o suficiente pra eu querer conhecer aquela garota. Por algum tempo seus olhos não saíram da minha lembrança, seu brilho esquentando minha noite fria. 
   Nem me lembro quantas cervejas tomei com os amigos, todos dizendo pra eu esquecer, que talvez nunca mais eu a encontraria. Podia ser, mas, aquele castanho claro, vívido, de seus olhos, não me deixaram ficar quieto. Eu a procurei pela festa ainda muito tempo, imaginando que gosto teria sua boca, seu corpo. Ela me olhou ou só me viu? Não poderia saber nunca disso, a não ser que a encontrasse.
   Mais um feixe de luz e lá está ela novamente: entre os grupinhos de jovens, destaca-se aquela moça alegre, com um sorriso no rosto e seus olhos reluzentes, procurando, quem sabe, um par de olhos também castanhos, mas frios. Dança com as amigas, segurando um copo do que parecia ser vodka, ou outra bebida sem cor. Perdi-a de vista quando um cara bêbado esbarrou em mim, mas podia jurar que, em um último relance, ela também me viu e me lançou um olhar misterioso, sedutor.
   Começa a chover e, para minha surpresa, oh!, pra quê esconder a emoção sentida? Oh!, para minha doce surpresa, ela me fitava não de muito longe. A chuva a deixava mais misteriosa, mais bela, com seus olhos ardentes. Dei dois passos a frente e a vi se perder de novo entre as vívidas pessoas dançantes e, só ali, dei-me conta: ela brincava comigo. Seus olhares furtivos, seu sorriso, seus passos pra me evitar, pra me convidar a entrar no seu mundo, eram quase uma dança. E eu estava entrando no passo, no compasso daquela moça sem nome. A moça dos olhos de ouro.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Será se sou?

Eu quero ser a tristeza no papel manchado de alguém
Ser a foto no porta retrato despedaçado de outrem
Uma gota pingada no olho da menina
colírio, alívio, um ombro pra secar lágrimas

Quero estar na rima do poema dela
Na luz da grande bola amarela
Ser a onda na sua indecisão
Será que eu vou ou não?

Também ser o cara triste no buzão
Aquele que brigou com a razão
Leva, no peito, um partido coração
Será que eu sou, ou não?

Serei
sereno
se
souber
se
sou.

sábado, 26 de abril de 2014

Vai-se tudo, um dia


Já encontrei o horror
Ele veio, ficou por um tempo, depois se foi
Também já encontrei a dor
Ela veio, ficou por mais tempo, mas depois também se foi
Encontrei o ardor, furor, calor...
Muitos outros sentidos que possam terminar em 'or'
chegaram, ficaram e depois foram embora.

Então, um dia, encontrei amor
Veio
Ficou
Fixou
Perdurou.


Só, depois, ele voou.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Declaração


Uni versos para te ter sempre no meu universo.
Girando ao redor de mim, minha lua, meu satélite natural.
Nós giramos na mesma órbita, não sabe, menina?

Não é como se o sol fosse queimar até apagar.
Não com esse brilho que teus olhos produzem.
São como duas estrelas vivas queimando no céu.

O dia não irá esfriar enquanto tivermos calor
Enquanto formos feitos de amor, de dor, sabor, por favor
Não me deixe mais te deixar, porque eu não quero.

Digo e repito que não quero deixar mais passar
É uma sorte grande que a gente se tenha assim
E te quero mesmo é perto de mim.

domingo, 30 de março de 2014

Apenas nós


O frio se foi, sabia?
Lembra daquele tempo gelado,
Onde o nosso calor estava distante?
Lembra do calor?

Ele agora está de volta, e com toda a força.
Pois somos dois sóis,
E um esquenta o outro.
Por mais que seja ilógico isso, mas,
enfim, que lógica tem o amor?

Ninguém explica e ninguém entende.
Isso não tem importância, é trivial
Igual as rimas inexistentes nesses versos.

O amor não segue em linha lógica.
Ele percorre ruas que ninguém vai percorrer
Vai, volta, sobe, desce.
Faz um laço curvado em nossos corações.

Meu laço se encontra com o teu
até não existir mais tu nem eu.
Apenas nós.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Refúgio


  Chove na cidade grande. As luzes que enfeitam as ruas e prédios vão se embaçando cada vez mais sobre a lente dos meus óculos. Minha camisa está encharcada e quase não sinto meus pés dentro do tênis gelado da água da chuva. O vento sopra contra mim, fazendo os pingos baterem com mais força em meu rosto, levando todas minhas preocupações, todo o meu cansaço e lavando minh'alma com sua pureza.
  Lembro daqueles dias onde tudo era mais fácil, em que não se precisava de muito para ser feliz. Era tão bom ser criança e eu não sabia, ou preferia não saber. Ansiava pela idade adulta, pelos tão sonhados 18 anos, imaginando que tudo estaria ao meu alcance, ah!, sonho de infância. Não é lá essas coisas entrar na fase adulta da vida, não. É tudo cansativo, mas essa chuva me alivia, leva o meu cansaço, esconde a mágoa e a tristeza que está descendo dos meus olhos, procurando o asfalto da rua.
  Caminho enquanto a chuva vai caindo e poucos, na verdade quase nenhum carro me olha com seus fortes faróis, tirando-me dos devaneios e lembranças, jogando-me de volta àquele mundo, esse mundo há muito estragado por todas as pessoas, inclusive por mim. Ando procurando aquele refúgio que sempre tinha enquanto criança, aqueles braços que me acalmavam depois de pesadelos, ou quando eu caía na rua, jogando futebol. Acredito que todos, pelo menos uma vez, desejaram esse refúgio.
  E a chuva não para...

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Algo fora da proposta do blog

No final do ano passado eu escrevi uma crítica pra cadeira de Estética e Linguagem do Audiovisual, de, é claro, um projeto audiovisual. Escolhi uma cena da série norte-americana da HBO "Carnivàle" que infelizmente só teve duas temporadas e foi ao ar entre 2003 e 2005.
Não vou contar a sinopse aqui, quem quiser procura depois que aqui nunca foi de ter isso. A cena se passa em pouco mais de um minuto e se trata de um monólogo de um dos personagens principais de toda a trama: um dos donos do circo 'Carnivàle', Samson, interpretado pelo Michael J. Anderson. Por ser a primeira crítica que fiz, fiquei feliz com minha nota (foi 8). Sem prolongar mais isso, eis aqui a tal crítica.

             "A cena analisada foi filmada em primeiríssimo plano, com posição frontal e angulação normal. A escolha destes componentes para criação do ato se dá primeiramente por uma relação de intimidade que o diretor procura criar entre o personagem e o seu espectador. É a introdução do que está por vir.
            Procura-se nessa cena, onde a câmera é colocada em frente ao ator, criar um momento ‘cara a cara’ com o personagem, criando assim um clima dramático, um pouco puxado para a tensão. Quem não fica tenso quando sente alguém tão perto? É como se um segredo estivesse para ser revelado, fixando quem assiste, a fim de mantê-lo preso até o fim, atiçando a curiosidade.
            Esse clima olho a olho que é criado a partir do posicionamento e do plano utilizados gera a sensação de algo muito sério e até fantástico está por vir. A iluminação vinda de cima para baixo, deixando pontos do rosto mais escurecidos que outros, dá um efeito de mistério, que se atenua a cada fala do personagem, o qual já foi dito, constrói uma relação de intimidade com seu ouvinte, convidando-o por meio do plano pelo qual é composta a cena.
            Outro motivo pelo qual este foi o melhor modo de gravar a cena em questão é o sentimento de imersão causado pela junção da fala mais os componentes da cena: fundo preto e luz fraca, trazendo um clima de reflexão. O diretor escolheu esta combinação para demonstrar um pequeno mergulho no mistério de toda a trama, estimulando a curiosidade já grande das pessoas, sem, no entanto, apelar. Desse modo, procura prender o espectador usando nada mais que um monólogo introdutivo, mas cheio de mistério e drama.
            Ao fim da cena, após alguns minutos de calmaria e tensão, onde a posição da câmera faz com que o personagem olhe nos olhos de quem assiste, há uma ruptura, um corte brusco naquele momento de intimidade, usado para imitar um acordar de um sonho, uma volta para a realidade, é como um despertar."

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Um outro encontro



  Havia meses que João não conversava com ela, não a pegava perto e a olhava nos olhos. Ele até acreditou não existir mais sentimento entre os dois e ela agora estava seguindo em frente, assim como ele também deveria seguir, afinal, a vida é um infinito passeio de trem. Uns sobem a bordo, outros descem, mas o trem continua sempre em frente.
  Por estarem longe um do outro foi mais fácil para João admitir que não daria mais certo, ele até já tinha aceitado e pensou em procurar outras pessoas. Mas só pensou mesmo, não conseguiu (talvez nem quis) nada novo. Deixou o tempo passar, sua vida não dependia só disso. Tinha os livros, as séries, as aulas e quase aulas na faculdade, não tinha obrigação de sair toda noite atrás de alguma garota que quisesse algo. Como se fosse esse o objetivo da vida.
  E foi nisso até o final do ano, quando eles se falaram de novo e como sempre acontecia, passaram o dia todo conversando, até porque tinham o que conversar. "Você encontrou alguém novo?"; "Ficou com alguém nesse tempo?"; "Poderíamos nos encontrar algum dia?" e continuaram conversando muito.
  Sim, eles podiam se encontrar e assim foi. Uma noite quente como todas as outras e depois de muito tempo João e Sara se viram. Seus olhos podiam dizer mais saudades que os lábios iriam falar. Mas os lábios não falariam, sorririam. E os braços se deram em abraços cheios de ternura por um sentimento que não tinha se esgotado nem em meses de separação.

  Quem mais podia sentir o que eles sentiam ali? Certamente não eu, então vamos deixá-los sentir um ao outro enquanto podem, desculpem por isso.





Imagem: http://www.paixaoeamor.com/mensagem/2130_teu_abraco.html 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Aviso ao seu moço

Cuidado com meus olhos, seu moço.
E com a luz que ele expele
que te rasga carne, pele
E te deixa só o osso.

Cuidado, moço, quando tu me olha
pois meu olhar é violento
é como chuva de vento
que até à tu'alma molha.

Moço, já disse pra ser cuidadoso
a essa hora é perigoso
de o sinhô me mirar. 

Cuidado, oh!, belo moço, com o meu olhar.
Que hoje ele tá de ressaca, viu?
Com ondas mais altas que o próprio mar.