Luísa sempre foi fixada em quadros e
imagens assustadoras ou fora do comum e passava horas vagando por sites onde
pudesse encontrar esse tipo de imagem. Não sabia de onde tirara esse gosto, mas
quem ligava? Ela não.
Certo dia, num desses sites, vira um
quadro que chamou sua atenção: três garotas no meio de uma sala como num
transe. A sala parecia daquelas antigas, do século XIX, dado à mobília clássica
e o assoalho de madeira bem polido. Os rostos das moças, cheios de arranhões,
estavam voltados para cima, e as bocas e olhos delas abertos.
Luísa olhava avidamente para a foto,
petrificada, quase em transe como as garotas. Até ouvir um barulho e quase pular da
cadeira. Virou devagar o rosto para a porta que dava no corredor de casa e viu
o rosto severo da mãe. Não foi preciso dizer nada. Luísa fechou o notebook e
vestiu uma camisola azul, indo em seguida para a cama. Dormiu e sonhou.
No sonho parte do que acontecera
naquele dia se repetia: ela saíra do banho e depois de se enxugar e vestir uma
calcinha foi para frente do notebook continuar sua busca pelas imagens e quadros
que tanto gostava. Mais uma vez ela encontrara aquele quadro e dessa vez sentiu um arrepio subir sua espinha. Nada mudara de fato, mas um leve sopro
gélido tocara o pescoço dela.
Observava novamente o quadro e as
moças dispostas em um círculo, de costas para o centro, onde havia um livro
aberto. Luísa jurou que conseguia ouvir a voz das moças em transe, como se
gemessem nas suas camisolas grandes e brancas caindo até o joelho e olhos que
pareciam vulcões rachados, com lava na superfície. O som do gemido ia
aumentando aos poucos, e Luísa mal piscava, o olhar fixo agora no livro,
tentando ler algo nele.
Quando o som agonizante chegou ao
ápice ela pode jurar que vinha dali do quarto, do seu lado e virou o rosto. O
susto foi enorme e o grito dela, por mais que tenha posto força para soltá-lo,
saiu sem som algum, como acontece em pesadelos. A irmã mais nova de Luísa
estava ao seu lado, também em transe, como as garotas do quadro. Mas, diferente
delas, os olhos da sua irmã estavam brancos e escorria baba dos cantos da boca
aberta. Luísa estava aterrorizada e seu olhar voltou para o quadro no notebook
e, mais uma vez, o grito sufocado não saiu.
Uma das garotas em transe no quarto olhava
diretamente para ela com seus olhos vazios e a boca aberta mostrando dentes
pretos. Luísa tentava se mexer, levantar e correr dali, mas o seu corpo pesava,
assim como a cabeça, e ela não conseguir se mexer. De repente os olhos da garota
estavam em cima dos dela, saltando da tela, como Samara saindo da TV em O
Chamado. Beijou Luísa profundamente, roubando toda sua força vital. Luísa
acordou.
“O teto está diferente”, pensou
Luísa com os olhos abertos. Ela os sentia queimar, como se estivessem em chamas,
assim como todo seu corpo. Percebeu que ainda ouvia o gemido. Pior! Percebeu que
o gemido saía da sua boca. Com o canto do olho em movimento reconheceu aquela
sala, aqueles móveis. Céus! Ela estava dentro do quadro. Ela era uma das
garotas do quadro! Ela passava a língua nos dentes e os sentiam moles e podres.
Tentou chorar. Tentou gritar. Não conseguiu. Estava presa e ficaria presa ali
por muito tempo.