domingo, 28 de julho de 2013

Como um rei

Eu sei que demorei muito a perceber o quão pouco eu fiz, o quão pouco ofereci sendo que tinha tanto a oferecer. Eu ainda tenho. Ela sempre me mostrou o que de mais verdadeiro tinha, o que sempre sentia. Fosse medo, alegria, tristeza, amor. Principalmente o amor. Eu que demonstrei pouco, por mais que amasse muito. Ainda amo. E creio que amarei por ainda muito tempo.
Uma vez eu a disse que nós parecíamos muito com uma canção. "Ainda é cedo". Eu egoísta, sempre cheio de mim. Ela atenciosa, sempre querendo o melhor pra nós. Era como se eu só quisesse estar ali, com ela, pelo simples fato de me ser confortável. Enquanto ela fazia planos, sonhava alto, baixo. Eu devia tê-la ouvido mais e me calado menos, porque sempre que eu falava demais era o orgulho falando no meu lugar, e gritando tão alto que eu nem me ouvia, não a ouvia. E o pior de tudo era perceber, depois, que tudo que ela me dizia estava certo, que era verdade.
Não queria ver que estava errado, muito menos admitir. Sempre fui metódico e mandão. A nobreza do coração dela não me tocava, infelizmente. E que coração ela tem. Sempre disposto a perdoar, sempre acreditando em mim, acreditando que eu conseguiria mudar e tentando sempre me fazer acreditar que poderia também. Mas eu não queria acreditar, estava certo que nenhuma pessoa podia mudar, que eu era aquilo e que aquilo eu seria, e isso me impediu de tentar naqueles dias. Era sempre ela quem me chamava pra reconciliar depois de uma discussão, que me chamava de manhã com uma mensagem de mais um mês completo de nós dois.
Era como um rei que eu era tratado, e como todo rei pensava primeiro em mim e não em nós, como devia ser. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

As fases de Amanda: um dia comum


  Amanda acordou feliz: a chuva que caía ainda era a mesma que começara antes de ela ter ido dormir. Checou o celular e viu uma mensagem de algum colega que avisava que não haveria aula. Isso era muito bom: passar o dia todo na sua cama quentinha. Estava ainda de pijama, e não pensava em tirá-lo tão cedo, planejava ficar em casa o dia todo.
  Lembrou-se dos últimos acontecimentos da sua vida e viu o quanto estava estranha: algum louco que a perseguia, tanto mandando mensagens quanto em seus sonhos. E como se não fosse o bastante, ainda sabia pra onde ela ia todo dia. Ela sentia medo de que a qualquer momento o seu celular vibrasse e ela visse algo do tipo: 'dia tedioso em casa, né, Amanda?' Seria muito assustador se isso acontecesse, mas de alguma forma, logo depois que suas sextas foram nada mais, nada menos que ficar em casa, as mensagens pararam. O dia estava perfeito para ela, começando por não ter precisado trocar de roupa. Ficava lendo, ouvindo seus CDs e assistindo a algum show ou séries, e como ela gostava de séries. Tinha por perto uma garrafa com chocolate-quente, que a dava água na boca só pelo seu cheiro, imagina então o sabor?
  A noite não foi diferente: ficou em casa, não queria sair, mesmo com a chuva tendo parado. Ela sempre esperou que um dia desse chegasse, e também sentia medo em sair, o estranho poderia estar só esperando lá embaixo para pegá-la desprevenida. E ela não duvidava que ele já poderia saber por onde ela morava, de tanto parecer conhecer seu dia. Por mais que a chuva tivesse parado a noite ainda estava fria e Amanda foi tomar um banho quente. Ainda ponderou, não queria ter que tirar o pijama e colocá-lo de novo, mas enfim foi. Tirou sua roupa e entrou na banheira, a água quente descendo em suas pernas longas e definidas. Sentiu o toque da água arrepiar seus pelos, todos eles, mas relaxou depois que a água ultrapassou o nível de seus joelhos, deixando as pontas dos dedos de fora.
  Então ela se encolheu, levantando os joelhos e passando as mãos em volta das pernas, querendo não precisar sair dali. Mas teve que sair quando terminou o banho pois a água já estava esfriando. Levantou-se e a água escorreu por seu cabelo e por seu corpo, contornando seus seios e descendo até se unir ao monte de água que esperava lá embaixo. Enxugou-se e voltou a se vestir, secando bem os cabelos. Depois voltou para a cama, leu algumas horas e por fim adormeceu, feliz pelo dia feliz que teve, sem sustos, sem medos. Só a chuva, seu quarto, sua cama. Nada a menos, nada a mais.





Fonte da imagem: http://www.tumblr.com/tagged/banheira 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Um pouco de Anne: No calor da manhã


            Anne não lembrava de ter ido dormir, mas acordou deitada num colchão, e reparou o curativo na sua perna. Lembrou então de tudo que ocorrera na noite passada, e associou que, por conta da perda de sangue, acabou ficando inconsciente e por isso não lembrava mais nada. Do seu lado, já de olhos abertos, André a fotografou de perto e depois sorriu. Ela riu junto e depois o beijou, sentindo o seu hálito adocicado, mais açúcar que café.
            Fez uma careta, não queria levantar. Queria ficar ali, toda manhosa, deitada com ele. “Mesmo assim não o amo”, pensava. E não amava mesmo, e ele sabia que não. Anne tinha muitas aventuras, algumas mais perigosas que outras, mas eram apenas aventuras, e logo, logo essa também entraria para a lista. Antes disso precisava acabar, e ainda não estava na hora.
            Foi até a cozinha, precisava de um café pra raciocinar direito. As janelas fechadas permitiam que ela passasse o dia usando apenas sua calcinha. Que ela, por sinal, também não lembrava de ter vestido, mas a excitava o pensamento de que ele a teria vestido. Talvez depois ela o deixasse tirar com a boca... Deu uma risadinha e tomou um gole do café, amargo, e fez uma careta. Depois de adoçar e beber o café, voltou pro quarto e reparou que algumas fotografias estavam estendidas num varal, que atravessava o quarto dele. E sorriu ao perceber de quem eram as fotos. “Ora, ora, moço. Quer dizer que tirou a noite pra me fotografar?” E sorrindo, observou cada foto: seu corte na perna, ela deitada de bruços, já com a calcinha e outras que mostravam seus seios.
            Foi até a janela, onde ele estava, e o abraçou, apertando-se contra ele, esmagando seus cheios e redondos peitos nele, e oh, como ela achou bom isso, poderia apostar que ele também. O sol nascia lá fora, ainda laranja, e uma brisa leve batia neles, arrepiando alguns pelos dele, pelo menos os que ainda não se arrepiaram com os beijos no pescoço que ela o dava. Quando ele se virou, ela o beijou na boca, e sentiu a pressão quando ele a puxou, colando-se ao corpo dela. Sentiu seu peito, quase sem pelos, ir e voltar, de acordo com sua respiração, e ele já estava duro novamente.
            Ela foi em direção à sua estante, onde viu vários CDs empilhados, e alguns livros também. Colocou pra tocar o Let it bleed, de 69, dos Stones pra tocar e começou a dançar enquanto ele a fotografava. Nesse passo ela já tinha vestido uma das blusas dele, uma com o famoso logo também dos Stones: o bocão com a língua de fora. Ela nem sequer lembrava que ele estava ali, fotografando, ou que usava apenas blusa e calcinha. Na verdade até se sentiu mais solta, mais folgada. Gostou daquilo. “Poderíamos repetir mais vezes” ela disse, e ele respondeu: “Só se estiver falando de tudo e não só das fotos.” Ela sorriu e foi até ele, beijando-o mais uma vez. Não precisava perguntar mais nada, então ele não perguntou.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Um pouco de Anne - Parte II




            Deitado na cama, ele a olhava ali, a flor da pele, com aqueles seus grandes olhos, agora tão estreitos, forçando uma conquista, uma sedução. Isso o divertia, mas ele sabia que já tinha feito com que ela esperasse demais. Chamou-a e ela foi. Sentiu o cheiro adocicado do perfume dela invadindo suas narinas e não demorou muito até que ficasse excitado. Sentiu os seios dela se enroscando no seu peito, sensação maravilhosa, que acabou quando ela sentou por cima dele, que já estava duro.
            Devagar, de um por um, ela o deixou tirar os botões de sua blusa, sentindo os dedos dele a tocarem, e deslizarem por seus seios cheios. Chamou-o para perto, com um movimento de dedo e o observou enquanto ele os beijava, suspirando a cada marca que ele deixava, a cada suave roçar dos seus lábios. Puxou a camisa dele para cima, e a atirou para o lado, empurrando-o de volta e deitando em cima dele.
            André tinha duas mãos que o empurravam para a cama, e deixou que elas o deitassem, só para em seguida usar as suas para puxá-la por cima dele. Desceu os dedos por toda a extensão de suas costas até chegar na parte de trás seu short jeans, que por sinal estava atrapalhando, e apertou com força, só pra ouvir, ali no seu ouvido, ela suspirar. Enquanto ela deitava sobre seu corpo, sentia o macio da pele branca dela se unindo à sua, aquele perfume que ela exalava, e o encanto de seus grandes olhos.
            Enfim, tudo que atrapalhava foi retirado e então veio à cabeça de Anne o pensamento de pouco tempo atrás, o movimento de dentro para fora, o calor que ela sentira, tanto na sua imaginação quanto no corpo, e o suor que o fazia deslizar. “Agora ele vai pegar o canivete”, ela pensou, “e me entregar. Logo depois vai estirar seu braço, com aquele seu sorriso branco e olhos tão belos.” Mas não havia canivete, não com ele.
            Quando tudo terminou, ela foi na sala, ainda nua, enquanto ele continuava deitado. Pegou a faca que estava em cima da mesa e ficou admirando-a, pensando em quanto ela estaria afiada. Descascou umas laranjas e fez um suco, sem açúcar ou adoçante, gostava da pureza de tudo, até da sua, se é que existia alguma pureza nela. Ouviu os passos de André atrás dela e se virou, sorrindo. Tinha a faca na mão. Seus olhos corriam por todo o corpo dele, mas não tinha desejo em feri-lo. Na verdade, seu desejo era o contrário: ver um fio de sangue descer da sua pele branca. Oh, parecia ser tão lindo na sua cabeça.
            “Acho que sei o que você quer.” E ele sabia, era incrível, mas desde que o conheceu, ele sabia sempre o que ela queria, com um único olhar, uma avaliação, e ele parecia ler todos os pensamentos dela. Aproximou-se dele, soltou seu cabelo escuro e o abraçou, como que em agradecimento. Aquilo o deixou duro novamente. Mas não, não foram os dois seios dela que o excitaram, mas sim o que estava prestes a fazer. Ela também estava animada, e seu prazer só aumentou, enquanto sentia, devagar, a lâmina afiada descendo em sua perna, formando um caminho vermelho no seu branco. Não gritou, sentiu mais prazer ali que quando estava na cama com ele. E no lugar da dor viera uma sensação de alívio, uma sensação de estar viva. Um sentimento que só aparecia quando estava com ele, quando a dor não doía.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Um pouco de Anne - Parte I


            "Eu estava na casa dele, estava no quarto dele. Sentia minhas mãos tremendo, suando. Mas eu não sentia medo. Ele apareceu na porta do quarto, e na sua mão vi uma lâmina, uma faca. Aproximou-se de mim, devagar, com um lindo sorriso no rosto e, com um pouco de força, o suficiente para rasgar minha pele, desceu a faca por ela..." 
            "Ei, ei." Ela se assustou, pegando o primeiro objeto que viu, uma faca, que estava em cima da mesa. Às vezes ela se surpreendia com o quanto ele sabia como ela agiria. Ele a pediu para se acalmar, dizendo que "eu não vou te machucar, você sabe. Nunca te machucaria..." e a beijou no pescoço, subindo suas mãos pelas costas dela, fazendo-a suspirar. Parou. Lembrou que ainda precisava de um banho.
            Anne não curtiu muito ele ter parado de beijá-la, assim, tão de repente. "Estava bom, até," ela pensou. Sentou-se na cadeira e ficou esperando, perdendo-se de novo em pensamentos, enquanto olhava fixamente para seu braço, pálido como cera, imaginando a beleza que seria, um fio de sangue escorrendo por ali. Às vezes se assustava com os próprios pensamentos. Seus devaneios sempre envolviam caras legais, lâminas e sangue. E ela pareceu desanimar um pouco com o que ele disse. 
            André a observava ali, sentada em seus devaneios, como uma menininha que imaginava um mundo encantando, com lobos, leões e homens, belos homens barbeados. Aliás, ele tinha feito sua barba na noite passada. Não, talvez não fosse com isso que ela tanto pensava. Estava muito absorta para pensar em homens barbeados, mas talvez ainda pensasse em lobos. Garras e lâminas eram mais a cara dela, e pelos.
            “Seu corpo estava sobre o meu, e eu o sentia dentro de mim. Sua boca era macia, beijando meu pescoço, ah... Do nada ele se levantou, e me deu um olhar cortante, com um sorriso que mais parecia uma minguante. Não estava gostando nada de ele parar o que estava bom na metade. Então ele pegou minha mão e colocou nela um pequeno canivete, no passo que estirou seu braço, ainda sorrindo.”
            “Anne? Alô?” Ela estava parada, observando a janela, ou talvez o que estava lá fora. André se aproximou por trás e a abraçou, tentando acalmá-la, quando percebeu que suas mãos tremiam. “Você está com medo? Ou isso é só o tesão de estar comigo?” Beijou-a mais uma vez no pescoço, e todos os pelos do corpo dela se eriçaram. Um simples relance de olhar no corpo dela já o deixava excitado, imagina então o que aquele abraço o causou? E não só a ele, obviamente.
            Quando ela sentiu o corpo dele junto do seu, uma sensação de urgência a invadiu, um sentimento de perigo, um prazer. Virou o rosto para beijá-lo, e depois o corpo. O peito dele não era musculoso, mas ele tinha ombros largos, e ela gostava disso. Controlando seus passos, foi o empurrando para o quarto, onde já deveriam estar. Estava ofegante, e por mais que lá fora chovesse e ventasse, ali dentro ela só pensava em tirar a roupa, o calor a consumia, embora ela quisesse que outro alguém a consumisse. Ela o derrubou na cama, e deu um sorriso malicioso, daqueles que os olhos estreitados e a boca fechada dizem tudo o que é preciso saber.





Fonte da imagem: http://astralportal.blogspot.com.br/2010/12/lua-minguante.html