sábado, 28 de abril de 2012

Um raio de sol


Ele já estava acordado, mas não abriu os olhos. Tinha medo de abri-los e perceber que aquela noite fora apenas um sonho. Ah, o calor do corpo dela se derramando sobre ele. Aquele beijos fogosos, olhares sedutores e toques sensíveis e fortes ao mesmo tempo. Aquele entrelaçar de pernas e braços e línguas e dedos... Os movimentos sensuais da cintura dela sobre ele, como se dissesse: "estou no controle!" E ela estava mesmo. Ele nem se atrevia a contrariar. Simplesmente acompanhava os movimentos. E que movimentos! Suas mãos deslizavam pela cintura dela, molhada de suor pela intensidade do momento. Ah! Foi uma noite e tanto. E agora ele estava ali, deitado, torcendo para que não tivesse sido um sonho. E quando ele abriu os olhos e a viu ali, deitada com ele, com a cabeça em seu peito, como uma criança que se sente protegida, foi só ali que ele se sentiu o homem mais feliz do mundo...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Coluna no Don't dance, please

Então pessoal, dessa vez não é um conto, mas não deixa de ser uma prosa, né? (desculpem a piada). Venho para convidar todos vocês que me leem aqui no meu blog, pra também me ler no Don't dance, please, blog de um amigo meu, Lucas Diniz. Lá eu vou 'falar' sobre religião, ideologias e alguns grupos ativistas, não deixando de fora também alguns conflitos seculares e chamadas sobre doenças sociais. Então é isso, espero que visitem lá e confiram não só os meus, mas todo o blog que tá legal. Beijos e abraços, até mais.

domingo, 22 de abril de 2012

Um sorriso


Eles estavam sentados no banco da praça, conversando sobre música, irmãos e outros assuntos irrelevantes. Seu braço envolvia os ombros dela, que se encaixavam perfeitamente no envolver dele. Aquela brisa leve levava os cabelos dela ao encontro do nariz do rapaz, que sentia o cheiro adocicado do seu xampu e ele queria que nunca passasse. Olhou pro seu rosto que estava mirando duas estrelas solitárias no céu, e um sorriso tímido se fez no seu rosto: um sorriso tão bonito, que nenhuma daquelas outras curvas do corpo dela chamava mais atenção que aquela curva formada no rosto da garota. Era um sorriso de quem pedia um beijo. Na bochecha. Na orelha. Na boca. Ficou admirando aquele sorriso. Brincou com os cabelos dela, e tocou seu queixo, fazendo-a olhar para ele. Seus lábios foram de encontro ao rosto dela, mas num movimento súbito da menina, seus lábios se tocaram. Foi naquele momento que ele percebeu que era correspondido, que era sim a resposta dela, mesmo sem ter feito nenhuma pergunta. E ficaram ali, abraçados, olhando o céu.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

This Sith

        
         Sith estava sentado na frente da TV. O volume baixo pra não acordar a mãe. Assistia a um filme que os gritos eram altos para aquela hora da noite. Seus olhos duros miravam cenas que, para alguns, seriam de horror, mas que fascinavam o pequeno garoto. Um homem mascarado que cortava a pele de uma garota e assistia os pingos descerem, deixando tudo vermelho. Ele achava incrível o modo como o sangue escorria, o prazer que o homem sentia em cortá-la, além do terror nos olhos das vítimas, sempre garotas. Até porque o corpo feminino é de um chamado tentador.
        Ele nem dormia mais, estava viciado naquele filme. As cenas se repetiam cada vez mais frequentes em sua mente. Sua mãe estava deitada quando ele abriu a porta e ofereceu café. Ela agradeceu e tomou todo, coitada, apagou depois de cinco minutos. Ele procurou uma faca na cozinha e foi até o quarto. Amarrou os braços dela na cama e puxou uma perna pra fora, esticada, pra ver o sangue pingar no chão quando cortasse. Foi passando a faca devagar na coxa e desceu até o joelho. Uma sensação de prazer invadia seu corpo. Seus olhos estavam tão relaxados, sua mente estava tão relaxada, que não sentia remorso algum. "Não é errado se te faz bem", pensou consigo mesmo. Viu, os agora abertos, olhos de medo da sua mãe e sentiu uma pontada de poder. Mesmo nos trinta e dois, ela mantinha o corpinho de vinte, sem rugas, o que encantava mais ainda o garoto de dez anos. Passou pro braço e se encantava a cada membro que cortava, a cada rio de vermelho que descia do corpo branco de sua mãe. Depois voltou pra frente da TV, pegou uma cerveja e viu o filme mais uma vez.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Uma carícia


Estava frio naquela manhã de terça. Ela estava sentada sozinha, olhando pro céu nublado e pensando no que a deixara tão triste. Uma leve brisa soprava, fazendo esvoaçar seu cabelo pra trás dos ombros, com pouca força. Não sabia ao certo o que era, mas era muito o que a deixava pra baixo. Talvez a discussão com o namorado, ou aqueles que dizem ser seus amigos. Ou simplesmente o fato de estar triste. Mesmo que não achasse ruim o frio e a solidão, não reclamaria se certa pessoa chegasse e a abraçasse. Seu caderno, todo rabiscado, era apertado com força, até que ela o abriu numa página, e começou a ler um texto. Mesmo que por pouco, um sorriso se abriu na sua boca, e os olhos se encheram de lágrima, que caíam e os pingos manchavam a página. Quase pula de medo quando sentiu um toque em seu braço. Um garoto lhe estendia uma Margarida, com um sorriso sincero e olhos grandes. Ela pegou a flor e sorriu de volta, agradecendo. O garoto sentou do seu lado, e olhou o que tinha na página do caderno. Sorriu também. Olhou pra ela, chegou mais perto e a abraçou. A brisa leve acariciava os dois naquele abraço quente e gostoso, o que ela mais precisava. Não disseram uma palavra, mas conversaram muito entre olhares e toques. Toques no rosto, braço, boca. Trocas de carícias que qualquer um gostaria de dar e receber. Ele arrumou o cabelo dela atrás da orelha, para que seu rosto ficasse todo à mostra, e ele pudesse contemplá-la. Depois desceu o dedo pela bochecha e tocou seu queixo. De leve foi encostando sua boca na dela, que apenas esperava. E ali ficaram, sabe-se lá por quanto tempo, naquele âmago de olhares e carícias, que dali não sairia. Não enquanto estivessem ali.

domingo, 8 de abril de 2012

Grande Legião...

Daniel na cova dos leões
(Legião Urbana)
Dois


Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo.
De amargo, então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve,
Forte, cego e tenso, fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.
Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão.
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.
Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Jimi's Illusion


                Enquanto tocava sua guitarra, Jimi lembrava cada momento da sua vida. Desde o primeiro beijo até o último cigarro. Era isso que o fazia tocar cada vez melhor. De vez em quando sofria de surtos e tinha ilusões, em uma delas, ele encontrava uma jovem garota, pálida e de cabelo curto, que sorria pra ele, por trás das árvores, e o convidava a entrar na floresta. Jimi sem hesitar correu a encontro da garota. Ela desaparecia e reaparecia entre as árvores, sob a luz de uma grande lua. Corriam e sorriam, e não se cansavam. De repente ela parou, de costas pra ele e começou a rir enquanto acendia um cigarro. Olhou para ele. Seus olhos penetrantes eram de um vermelho vívido, e pareciam atravessar-lhe a alma. Chegou mais perto dele, que já não se movia, e nem queria se mover. Ela soprou a fumaça dentro de sua boca e Jimi sentiu se queimando por dentro. Ela falou “não me deixe ir outra vez” foi então que ele lembrou quem ela era. Sim, seu primeiro beijo. Há tempos não se viam. “Você quem foi embora, lembra?” Uma lágrima descia pelo olho dela, que disse, com penar: “só porque você não me pediu pra ficar.” Afundando em lembranças, Jimi lembrou as últimas palavras que disse pra ela: “Vai mesmo? Finalmente.” Sim, poderia ser só brincadeira, e foi, mas só pra ele, e sem nenhuma graça pra ela. Ele certamente gostaria de voltar o tempo e tê-la pedido pra ficar. “Então, Jim, agora eu te peço pra ficar.” Enlaçando suas mãos na cintura fria dela, ele a beijou, sentindo o hálito frio percorrer todo o seu corpo...
                O corpo dele foi encontrado jogado aos lobos, mas seu espírito continuava correndo junto com a garota, entre as árvores da floresta.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Clair


 Ela caminhava na estrada de terra. Seu último cigarro na boca, o vento soprando, levando seu cabelo, recém cortado por ela mesma, acima dos ombros. Não tinha ficado tão bom, as pontas estavam erradas, mas ela não ligava. Não havia mais ninguém por ali que ainda se importasse. As folhas das árvores caíam. Era Outono, e ela queria alguém pra abraçar. Há dias não voltava pra casa. Na verdade, sua casa agora era onde ela conseguisse deitar e dormir, mesmo que por três horas. Seus olhos eram de um castanho claro que encantaria qualquer um, mas ela não gostava de olho no olho. Não queria garotos apaixonados atrás dela. Gostava muito da Cyndi Lauper, que cantava 'girls just want to have fun'. Só queria sair pra se divertir a noite inteira e dormir no primeiro colchão que visse. Adotara um caminho em que ela ditava regras e só ela saberia o caminho de volta. Era o tipo de garota que homem nenhum tentava botar laço.
 Soprou a fumaça pra cima, e uma gota caiu na sua testa. Lembrou do último cara que beijou - sim, ela ainda lembrava - era um rapaz bonito, cabelos loiros e face pouco arredondada. Ele a tocava com intensidade, e ela retribua, com beijos "calientes" e rápidas trocas de olhares, inconscientes da parte dela. Seus corpos se mexiam num vai e vem de pernas e braços e bocas... Um fervor subia nos dois enquanto um e outro cigarro era aceso e tragado até o fim e doses de Roth California eram viradas num só gole. Entre unhas e dedos, marcas eram feitas em todo o corpo do homem branco e quase sem pelos e quase sem músculos. Seus lábios se tocavam com mais força a cada encontro. Ela tentava mas não conseguia não olhar naqueles grandes olhos escuros, que sempre procuravam os dela naquela bagunça.
 Voltando ao presente, seu corpo já estava encharcado e ela nem percebera. Avistou uma casinha ali perto, onde não parecia ter ninguém. Entrou lá, tirou sua roupa, deixando à mostra sua tatuagem - um valete - e deitou na primeira cama que viu.