sábado, 18 de maio de 2013

Notícia de jornal

Era cedo quando seu celular tocou e a sua chefe jogou as palavras em cima dele: 'criança encontrada morta a 50 metros da sua casa, é bom pegar a matéria toda!' Tomou seu banho e seu café, vestiu-se e viu um recado que estava na geladeira: "papai, hoje vou ter treino de futebol às quatro, não esqueça, te amo." Lembrou que o filho foi pra escola com a secretária da casa mais cedo hoje. Saiu, trancou a porta e foi atrás da matéria do dia.
Ele já trabalhara com mortes antes, essa era a segunda de uma criança. Na primeira vez foi horrível para ele: ter que incomodar uma pobre mãe que acabou de perder um filho, não era aquilo que ele esperava que fosse virar a sua vida. Estava apenas fazendo seu trabalho, mas a cada pergunta que fazia à mulher, não recebia resposta nenhuma a não ser soluços. Estava odiando ter que estar ali, mas ou era isso ou não teria um emprego para sustentar a casa e cuidar do filho.
Voltando ao presente, Jonas já tinha avistado o local onde a criança fora encontrada: cada cidadão que passava por ali parava para se juntar aos outros que lá estavam e com isso um grande círculo foi formado ao redor do corpo, o que tornou muito fácil encontrá-lo. Ele conhecia alguns dos rostos que estava ali, alguns moravam na mesma zona que ele, até seu vizinho estava ali.
Quando ele chegou perto da multidão alguns rostos se viraram para ele e ficaram paralisados. Logo mais gente estava olhando para Jonas e esquecendo do corpo. Não entendia porque estavam todos olhando para ele, 'será que vesti a camisa avessada? Meu rosto está melado?' Mas não era nada disso. Era pior: o corpo que estava no centro do círculo de pessoas era o de seu filho.
Na hora ele quase caiu, perdeu seu chão. 'Era apenas um garoto!' gritou em silêncio, 'nunca fez mal a ninguém.' Jonas se viu perdido em meio a tanta gente, muitos ainda olhando para ele. Mal percebeu quando sua equipe do jornal chegou, com câmera, microfone e uma forte luz que o tirou de seus tristes pensamentos. 'Vamos, Jonas, não podemos perder tempo!' De repente se viu no lugar da mãe que tinha entrevistado da outra vez. Sem saber direito o que fazer, falou à sua produtora: 'eu não posso fazer isso.' 'Ou você faz ou não terá o que fazer por mais tempo, agora faça seu trabalho.' disse a produtora, que estava no ponto. 'ERA O MEU FILHO! NÃO POSSO NOTICIAR A MORTE DE MEU PRÓPRIO FILHO!' por mais que estivesse triste, ele ainda não tinha derramado nenhuma lágrima.
O mundo lá fora sumiu e Jonas via agora a si mesmo na TV, em meio a uma morte misteriosa de um garoto - seu filho - que fora encontrado morto embaixo de um banco por a velha da banquinha de jornal. Não lembrava de ter dito aquelas palavras, mas lá estava ele noticiando a morte de seu filho: 'hoje de manhã, um triste acontecimento tomou a todos da cidade de Grazza, um garoto de apenas sete anos foi encontrado morto. Victor Iscólera não apresentava sinais de luta no garoto, nenhuma marca mostra que ele foi espancado ou que sofreu abuso. Meu filho foi morto hoje. A polícia ainda não sabe como ou quem, mas estão procurando provas e algum indício que os ajude na busca. Enquanto isso o que eu faço? Não posso simplesmente ir para casa, assistir ao noticiário e esquecer que uma criança foi morta porque foi o meu filho. Eu iria deixá-lo no futebol hoje de tarde. Dessa vez aconteceu com o meu, mas poderia ter acontecido com o de qualquer um. E mesmo sabendo disso, só fazemos algo quando o pior acontece.' Seus olhos desceram em lágrimas e o jornal cortou para os comerciais.