No final do ano passado eu escrevi uma crítica pra cadeira de Estética e Linguagem do Audiovisual, de, é claro, um projeto audiovisual. Escolhi uma cena da série norte-americana da HBO "Carnivàle" que infelizmente só teve duas temporadas e foi ao ar entre 2003 e 2005.
Não vou contar a sinopse aqui, quem quiser procura depois que aqui nunca foi de ter isso. A cena se passa em pouco mais de um minuto e se trata de um monólogo de um dos personagens principais de toda a trama: um dos donos do circo 'Carnivàle', Samson, interpretado pelo Michael J. Anderson. Por ser a primeira crítica que fiz, fiquei feliz com minha nota (foi 8). Sem prolongar mais isso, eis aqui a tal crítica.
"A cena
analisada foi filmada em primeiríssimo plano, com posição frontal e angulação
normal. A escolha destes componentes para criação do ato se dá primeiramente
por uma relação de intimidade que o diretor procura criar entre o personagem e
o seu espectador. É a introdução do que está por vir.
Procura-se
nessa cena, onde a câmera é colocada em frente ao ator, criar um momento ‘cara
a cara’ com o personagem, criando assim um clima dramático, um pouco puxado
para a tensão. Quem não fica tenso quando sente alguém tão perto? É como se um
segredo estivesse para ser revelado, fixando quem assiste, a fim de mantê-lo preso
até o fim, atiçando a curiosidade.
Esse
clima olho a olho que é criado a partir do posicionamento e do plano utilizados
gera a sensação de algo muito sério e até fantástico está por vir. A iluminação
vinda de cima para baixo, deixando pontos do rosto mais escurecidos que outros,
dá um efeito de mistério, que se atenua a cada fala do personagem, o qual já
foi dito, constrói uma relação de intimidade com seu ouvinte, convidando-o por
meio do plano pelo qual é composta a cena.
Outro
motivo pelo qual este foi o melhor modo de gravar a cena em questão é o
sentimento de imersão causado pela junção da fala mais os componentes da cena:
fundo preto e luz fraca, trazendo um clima de reflexão. O diretor escolheu esta
combinação para demonstrar um pequeno mergulho no mistério de toda a trama, estimulando
a curiosidade já grande das pessoas, sem, no entanto, apelar. Desse modo,
procura prender o espectador usando nada mais que um monólogo introdutivo, mas
cheio de mistério e drama.
Ao fim
da cena, após alguns minutos de calmaria e tensão, onde a posição da câmera faz
com que o personagem olhe nos olhos de quem assiste, há uma ruptura, um corte
brusco naquele momento de intimidade, usado para imitar um acordar de um sonho,
uma volta para a realidade, é como um despertar."