Ana acordou suando naquela manhã de
sexta-feira. Lembrava do sonho horripilante que tivera na noite passada e não parava de pensar nele. Enquanto se arrumava, ouvia claramente uma risadinha
infantil, maldosa, de criança que acabou de aprontar. Precisava ir à aula e já
estava atrasada.
Arrumou-se rapidamente e cantarolou alguma canção, na tentativa de esquecer o sonho. Mas ela sabia que, de acordo com
o que sonhara, o pior ainda estava por vir. Trancou a porta de casa e encarou o
corredor que levava até a escada. Podia ouvir o próprio coração bater. De novo todas
as lembranças do sonho voltaram à cabeça dela e o nervosismo tomou conta de
Ana.
Respirando fundo, ela deu o primeiro
passo, e como não ouviu nada, deu o segundo. Caminhou devagar até chegar no
primeiro (ou último) degrau da escada. Desceu um e parou de repente: era a
risada de novo. Aquela risadinha de criança sapeca, que acabara de aprontar.
Com o coração aos pulos, Ana desceu mais um degrau e dessa vez foi pior: sentiu
um sopro leve na nuca. Por mais que Ana soubesse o que viria a seguir, não
conseguiu se conter.
Virou devagar e, ao se deparar com aquela
menina, aquela mesma que invadiu seus sonhos, não conteve um grito de terror. A
menina usava um vestido todo vermelho, tinha a pele branca como leite e dos
seus olhos saíam sangue escuro. Os cabelos, sem nenhuma coloração, só afirmavam
o que Ana sabia: aquela garotinha não tinha vida. Ana não conseguia mover o corpo
e sem mais nem menos, a linda menina tocou-a na mão. O que queria? Será que Ana
tinha pego algo dela?
A menina retirou a mão da mão da
vítima e se afastou devagar, o rosto completamente mudado. Ana agora podia se
mover, mas não adiantou muito. O medo foi tão grande que ela não viu o degrau e
tropeçou no vazio, caindo bolando na escada, até bater com a cabeça no chão. A
última visão dela foi aquele vulto vermelho sumindo no ar, como some a fumaça
quando se dissipa. Ana, enfim, livrou-se do medo.