domingo, 21 de janeiro de 2018

A chuva

            Numa dessas tardes chuvosas, com uma xícara de café recém feito nas mãos, eu me pego observando os pingos caírem da porta da cozinha, ela dá pro muro. Sento-me na cadeira de balanço posta ali, protegida por uma cobertura de telhas justamente para dias assim, dias em que a chuva cai, mas não pode nos atingir. Quem dera fosse sempre assim, e com tudo, inclusive a saudade. O balanço lento da cadeira e os pingos de chuva nas telhas me embalam e eu fecho os olhos, imagino-me em outro lugar. Nesse outro lugar eu posso sentir os pingos de chuva escorrendo pelo meu rosto. É um lugar onde eu não preciso me preocupar com as lágrimas que descem dos meus olhos, porque a chuva as esconde.

            Então eu me sinto abraçado, assim de repente, sem pedir, sem ao menos pensar em quanto eu gostaria de ser abraçado, mas sinto dois braços envolverem meu corpo por trás. Não me assusto, nem nego, afinal, é tão raro isso hoje em dia: um abraço dado sem ser pedido. Viro meu corpo para ver quem está me abraçando e tomo um leve susto, mas não com medo, e sim surpresa. O rosto do dono desse abraço é o mesmo do meu, sou eu me abraçando, eu e o vento, e a solidão desse momento. “Solidão?” Vocês podem perguntar surpresos. Sim, mas nem toda solidão precisa ser ruim; nem toda solidão vem molhada com tristeza e cheirando à solidão. Às vezes ela vem com um sopro de paz, gotas frias de reflexão e uma pitada de liberdade. Abro os olhos e percebo que continua chovendo, mas não só no telhado, ou no chão; chove também em meu coração.