Numa
dessas tardes chuvosas, com uma xícara de café recém feito nas mãos, eu me pego
observando os pingos caírem da porta da cozinha, ela dá pro muro. Sento-me na
cadeira de balanço posta ali, protegida por uma cobertura de telhas justamente
para dias assim, dias em que a chuva cai, mas não pode nos atingir. Quem dera
fosse sempre assim, e com tudo, inclusive a saudade. O balanço lento da cadeira e os pingos de chuva nas telhas me embalam e eu fecho os olhos, imagino-me em
outro lugar. Nesse outro lugar eu posso sentir os pingos de chuva escorrendo
pelo meu rosto. É um lugar onde eu não preciso me preocupar com as lágrimas que
descem dos meus olhos, porque a chuva as esconde.
Então
eu me sinto abraçado, assim de repente, sem pedir, sem ao menos pensar em
quanto eu gostaria de ser abraçado, mas sinto dois braços envolverem meu corpo
por trás. Não me assusto, nem nego, afinal, é tão raro isso hoje em dia: um
abraço dado sem ser pedido. Viro meu corpo para ver quem está me abraçando e
tomo um leve susto, mas não com medo, e sim surpresa. O rosto do dono desse
abraço é o mesmo do meu, sou eu me abraçando, eu e o vento, e a solidão desse
momento. “Solidão?” Vocês podem perguntar surpresos. Sim, mas nem toda solidão
precisa ser ruim; nem toda solidão vem molhada com tristeza e cheirando à
solidão. Às vezes ela vem com um sopro de paz, gotas frias de reflexão e uma
pitada de liberdade. Abro os olhos e percebo que continua chovendo, mas não só
no telhado, ou no chão; chove também em meu coração.