quarta-feira, 19 de outubro de 2016

As vogais

Imagine uma sociedade onde todas as letras são As e têm os mesmos costumes e são todos iguais, mudando apenas o tamanho entre as crianças e os adultos. Todas estão acostumadas a realizar as mesmas ações todos os dias, a vida segue igual, sem nada de diferente. Mas então um dia aparece uma letra estranha a essa sociedade. Estranha tanto em forma como em comportamento, como a letra E, e passa a caminhar pela cidade. Como reagiriam as letras As?
Decerto as letras iguais se assustariam perante a chegada dessa nova e diferente vogal. Observariam primeiramente de longe os costumes dela e não se atreveriam a interagir, até que uma das instituições da cidade, como igreja ou justiça buscasse o diálogo e apresentasse a essa nova vogal sua política. Percebendo que essa letra tem modos e ideologia diferentes do povo da cidade, e considerados mais primitivos, tais instituições tentariam transformar essa nova letra em um velho A, para que possa se adequar às normas e à vida daquela sociedade.
Ao constatarem que, mesmo com as tentativas de mudança a nova letra não agia como A, por, e não somente por isso, ser uma letra E, as outras letras A procurariam outro modo de transformar aquela vogal. Usariam de fórmulas mais pesadas e que não respeitam aos direitos daquela letra ser como ela é e forçando-a a deixar de ser E. Assim, dobrariam a perna vertical da nova letra e a deitariam, modificando também a orientação do traço vertical do meio, deixando a letra mais parecida com um A o possível: comemorariam a evolução daquela nova letra, e pior, o próprio E (agora A deformado), comemoraria sua mudança e tentaria se encaixar.
Mesmo depois de um tempo fazendo coisas que as letras A faziam, o antigo E continuaria refletindo sua natureza inata: suas características biológicas não deixariam de existir só porque sua aparência foi mudada e, assim sendo, não tardaria até que sua forma e reações voltassem a ser de E. E se algo ruim acontecesse muitos logo apontariam o dedo para ele, para o diferente, pois a culpa está sempre no outro, no novo, naquele que não é dali. A nova letra perderia a confiança das letras A originais e aos poucos seria abandonado, sentindo-se um fracassado, porque quando todos apontam que o erro é você, nada mais se pode fazer. Ele sumiria.
Contanto, se nessa fuga ele encontrasse uma sociedade de letras diferentes entre si, e também dele mesmo (agora um E com traços de A), que em vez de tentar transforma-lo, decidissem acolhe-lo e trocar ideias, ensinar e aprender com ele, quão grande seria a desconfiança e também alegria dele?
Ele ficaria desconfiado pela experiência que teve com a sociedade anterior, a qual tentou força-lo a ser como eles eram e a fazer o que faziam. Isso marcaria negativamente a ideia de sociedade para o E. Mas, se essa nova sociedade de letras diferentes fosse aos poucos conhecendo e integrando essa letra, de forma que aceitasse suas diferenças, a socialização seria agradável e suave, e o E conseguiria se encaixar nela sem nenhum problema, pois além de aprender com os outros, também poderia ensinar, visto que todos os outros se disporiam a ouvir.

Agora olhe ao seu redor: a sociedade em que você se encontra é como a dos As ou como a das vogais diversas? E olhe também para si: você age da primeira ou da segunda forma? Se você impondo seus costumes, crenças, cultura, etc. sua atitude é tão ruim quanto à da primeira sociedade. As pessoas são diferentes e é preciso aceita-las e respeita-las como elas são. Assim como fizeram as vogais O, I e U com a chegada da letra E.