Imagine uma sociedade onde todas as
letras são As e têm os mesmos costumes e são todos iguais, mudando apenas o
tamanho entre as crianças e os adultos. Todas estão acostumadas a realizar as
mesmas ações todos os dias, a vida segue igual, sem nada de diferente. Mas
então um dia aparece uma letra estranha a essa sociedade. Estranha tanto em
forma como em comportamento, como a letra E, e passa a caminhar pela cidade.
Como reagiriam as letras As?
Decerto as letras iguais se
assustariam perante a chegada dessa nova e diferente vogal. Observariam
primeiramente de longe os costumes dela e não se atreveriam a interagir, até
que uma das instituições da cidade, como igreja ou justiça buscasse o diálogo e
apresentasse a essa nova vogal sua política. Percebendo que essa letra tem
modos e ideologia diferentes do povo da cidade, e considerados mais primitivos,
tais instituições tentariam transformar essa nova letra em um velho A, para que
possa se adequar às normas e à vida daquela sociedade.
Ao constatarem que, mesmo com as
tentativas de mudança a nova letra não agia como A, por, e não somente por
isso, ser uma letra E, as outras letras A procurariam outro modo de transformar
aquela vogal. Usariam de fórmulas mais pesadas e que não respeitam aos direitos
daquela letra ser como ela é e forçando-a a deixar de ser E. Assim, dobrariam a
perna vertical da nova letra e a deitariam, modificando também a orientação do
traço vertical do meio, deixando a letra mais parecida com um A o possível:
comemorariam a evolução daquela nova letra, e pior, o próprio E (agora A
deformado), comemoraria sua mudança e tentaria se encaixar.
Mesmo depois de um tempo fazendo
coisas que as letras A faziam, o antigo E continuaria refletindo sua natureza
inata: suas características biológicas não deixariam de existir só porque sua
aparência foi mudada e, assim sendo, não tardaria até que sua forma e reações
voltassem a ser de E. E se algo ruim acontecesse muitos logo apontariam o dedo
para ele, para o diferente, pois a culpa está sempre no outro, no novo, naquele
que não é dali. A nova letra perderia a confiança das letras A originais e aos
poucos seria abandonado, sentindo-se um fracassado, porque quando todos apontam
que o erro é você, nada mais se pode fazer. Ele sumiria.
Contanto, se nessa fuga ele encontrasse
uma sociedade de letras diferentes entre si, e também dele mesmo (agora um E
com traços de A), que em vez de tentar transforma-lo, decidissem acolhe-lo e
trocar ideias, ensinar e aprender com ele, quão grande seria a desconfiança e
também alegria dele?
Ele ficaria desconfiado pela
experiência que teve com a sociedade anterior, a qual tentou força-lo a ser
como eles eram e a fazer o que faziam. Isso marcaria negativamente a ideia de
sociedade para o E. Mas, se essa nova sociedade de letras diferentes fosse aos
poucos conhecendo e integrando essa letra, de forma que aceitasse suas
diferenças, a socialização seria agradável e suave, e o E conseguiria se
encaixar nela sem nenhum problema, pois além de aprender com os outros, também
poderia ensinar, visto que todos os outros se disporiam a ouvir.
Agora olhe ao seu redor: a sociedade
em que você se encontra é como a dos As ou como a das vogais diversas? E olhe
também para si: você age da primeira ou da segunda forma? Se você impondo seus
costumes, crenças, cultura, etc. sua atitude é tão ruim quanto à da primeira
sociedade. As pessoas são diferentes e é preciso aceita-las e respeita-las como
elas são. Assim como fizeram as vogais O, I e U com a chegada da letra E.