sábado, 22 de fevereiro de 2014

Refúgio


  Chove na cidade grande. As luzes que enfeitam as ruas e prédios vão se embaçando cada vez mais sobre a lente dos meus óculos. Minha camisa está encharcada e quase não sinto meus pés dentro do tênis gelado da água da chuva. O vento sopra contra mim, fazendo os pingos baterem com mais força em meu rosto, levando todas minhas preocupações, todo o meu cansaço e lavando minh'alma com sua pureza.
  Lembro daqueles dias onde tudo era mais fácil, em que não se precisava de muito para ser feliz. Era tão bom ser criança e eu não sabia, ou preferia não saber. Ansiava pela idade adulta, pelos tão sonhados 18 anos, imaginando que tudo estaria ao meu alcance, ah!, sonho de infância. Não é lá essas coisas entrar na fase adulta da vida, não. É tudo cansativo, mas essa chuva me alivia, leva o meu cansaço, esconde a mágoa e a tristeza que está descendo dos meus olhos, procurando o asfalto da rua.
  Caminho enquanto a chuva vai caindo e poucos, na verdade quase nenhum carro me olha com seus fortes faróis, tirando-me dos devaneios e lembranças, jogando-me de volta àquele mundo, esse mundo há muito estragado por todas as pessoas, inclusive por mim. Ando procurando aquele refúgio que sempre tinha enquanto criança, aqueles braços que me acalmavam depois de pesadelos, ou quando eu caía na rua, jogando futebol. Acredito que todos, pelo menos uma vez, desejaram esse refúgio.
  E a chuva não para...

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