terça-feira, 27 de maio de 2014

Dança de cigana - Parte III

Toda feita de luz

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   Passei a noite relembrando aquele nosso encontro de fim de tarde, tudo aleatório, como foi a primeira vez que a vi. Lembrei seus olhos, sua boca, uma sedução só. Quase não dormi e quando enfim consegui foi com ela que sonhei.
   Ela estava sentada numa cadeira, com uma roda de amigos nossos, e eu em pé, atrás dela, tocando seus ombros, como numa massagem. Eu já vinha há alguns dias tentando beijá-la, mas sem êxito, ela sempre brincando comigo, sempre me colocando na sua dança. Seus olhos não escondiam o divertimento que era essa brincadeira, esse passo envolvente, e eu sempre entrava nele. Até nos sonhos.
   Passou-me mais um dia e eu ainda não sabia um meio de encontrá-la que não fosse ao acaso. Não por ser ruim os encontros do jeito que são, mas depender de um evento aleatório para rever aqueles olhos era deveras decepcionante. Eu caminhava pelos lugares onde a vi da última vez, na esperança de conseguir algum meio de vê-la, nem que fosse uma brincadeira do meu cérebro, ou outro déjà vu.
   Noutra noite de sonhos belos, com aquelas estrelas castanhas iluminando a escuridão, seu rosto me apareceu como o do Gato de Cheshire*, mas com olhos castanhos. Seu sorriso chegava a paralisar o meu funcionamento cerebral, e eu perdia todo o controle da respiração e das batidas do coração.
   Eu seguia aqueles olhos onde quer que estivessem indo. Sabia que ela estaria lá comigo, não importando onde desse aquele caminho. De repente, como que um relâmpago iluminando a noite, ela se fez luz na minha frente. Sua boca em forma de beijo me convidava a entrar naquela dança, naquela sedução. Eu ainda imaginava qual seria o gosto daquele beijo. 
   Ao seu redor tudo começava a se iluminar, tanto pelo brilho dos seus olhos, como de toda a luz que era ela. Aproximei-me devagar, o corajoso eu, enfrentando todo aquele brilho, minha visão quase cegando perante ela, toda luzes e branca, com seus olhos castanhos. Peguei sua mão e seu toque era como porcelana, frágil, delicado, cheguei mais perto e encostei minha boca na dela. Podia não ter sabor nenhum, mas o toque de seus lábios, macio, suave, era de uma leveza tão grande, que nem percebi quando acordei em minha cama. Na minha mente, só a lembrança dela, e ela toda luz. Toda feita de luz.





*Se você não sabe quem é, tá na hora de rever um dos clássicos da infância de muita gente: Alice no País das Maravilhas.

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