quarta-feira, 27 de julho de 2011

Noite anormal

 "Você já sentiu como se estivesse sendo vigiada em seu próprio quarto?", foi o que Clara me perguntou naquela noite. Eu sentia que ela não estava bem. Suas pupilas estavam dilatadas, ela suava muito e se assustava a cada esquina. Ela dizia que sentia, sempre em lugares escuros, que alguém a estava vigiando na escuridão  esperando que ela dormisse, para dar a ultima cartada. Naquela noite seria o fim.
 Ela estava em casa, sentada na cama e vendo a novela, quando escutou passos la dentro. Ficou com medo e resolveu sair. Procurou um lugar movimentado e claro, para tentar fugir do que a perseguia. Via muitos rostos e luzes, mas mesmo assim não conseguia esquecer. Um sussurro em sua mente dizia: "Volte, Clara..." Ela ficou com medo e andou mais depressa. O sussurro agora era uma voz e a cada beco que agora ela passava, via uma sombra que a perseguia. Corria sem rumo, chorando e limpando a vista, igual a um para-brisa na chuva.
 Viu uma casinha com luzes acesas. Bateu, mas não tinha ninguém. Entrou pela janela. La dentro era calmo, quente e bonito. Tinha uma lareira acesa, o frio era intenso naquela região. Mais uma vez ouviu a voz, agora mais alta. Voltou a ouvir passos, que vinham de fora da casa. "Ele esta vindo." Bateu nela um desespero e ela olhou pra todos os cantos. Encontrou um banheiro, onde se trancou imediatamente. A porta da entrada rangeu, "ele esta aqui", pensou. Segurou o choro, enquanto ouvia os moveis serem revirados e o espelho quebrar. Clara sentia muito medo, queria gritar mas não podia. Viu uma banheira cheia d'água. Como não havia janelas no banheiro, era questão de tempo que o perseguidor a encontrasse, não viu outra maneira: tirou a roupa, entrou na banheira e afundou todo o corpo. Com um pouco de medo, foi deixando a água entrar em seus pulmões, como finos punhais de gelo que os perfuravam. Não durou muito e a dor passou. Logo veio a paz.
 La na sala tudo estava como antes: quente, calmo e bonito. Não havia nada quebrado ou jogado, nem ninguém ali. Tudo não passou do medo que ela sentia. Clara sempre fora paranoica e pensava que iria ser cruelmente morta a qualquer instante por algum ser maldito. No teto do banheiro, o qual seus olhos claros e mortos ainda miravam, estava escrito: "Is all in your mind".


Para o Bloínquês.

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