sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Conto incerto



A lua aparecia pela primeira vez naquela semana, e era de uma beleza tanta que prendia, pelo menos por alguns segundos, quem a olhava. E nisso estava um rapaz, sentado num banco, olhando-a admirado. Ele tinha no colo caderno e caneta, talvez para escrever alguns versos sobre aquela lua, sobre aquela noite, sabe-se lá o quê, não pude ler a mente do rapaz, quem dera tivesse este dom. Sabia-se apenas que ele era um amante daquela beleza natural.
Ali naquela mesma praça, uma garota de cabelos escuros também tinha parado para observar a lua, e como essa parecia gostar de ser observada. A garota tinha um brilho nos olhos que só era ofuscado pelo brilho daquela lua. 
Mas por algum motivo, desconhecido por quem vos escreve, quiçá por quem me lerá, mas a garota desceu seu olhar do céu e foi de encontro ao de um rapaz de cabelo curto e rosto bem barbeado que a olhava sentado num banco. Fica então aqui registrado apenas o que vi acontecer...

O rapaz fazia rabiscos em seu caderno, ainda olhando a garota, que percebeu o movimento da caneta por cima do papel. Talvez estivesse descrevendo a beleza daquela noite, talvez comparando a beleza da garota ao brilho daquela tão irradiante lua. Quem sabe fosse um poeta, um desses loucos românticos que veem beleza em tudo aquilo que hoje se passa em branco para a maioria. Um daqueles rapazes sentimentais que sofre paixões platônicas desde o colegial por não ter desenvoltura com as garotas e acaba se afogando em romances terrenos, onde o vilão, nesse caso o chamado "garanhão", conquista a mulher que quiser, e ai de quem tentar competir com ele, acaba sozinho no final por não saber cuidar, por não dar valor e o mocinho é aquele que, como talvez fosse ele, consegue o amor da jovem donzela. 
Talvez por ser tomada por essa curiosidade, ou por interesse no rapaz que a olhava a moça foi se aproximando dele, devagar para que ele não percebesse e acabasse fugindo, como os pássaros voam quando tentamos bater uma fotografia deles, chegando a invadir seu espaço agressivamente (rápido demais). Parou quando percebeu que o poeta levantava a cabeça para olha-la mais uma vez e logo depois admirar a lua. 
Não posso dizer ao certo o que eles conversaram no momento seguinte, mas pareceu-me que ela gostou do que vira no caderno. Não, o garoto não fugiu à sua chegada, em vez disso, cedeu espaço no banco e sorriu para ela. Com certeza ficou envergonhado, afinal, qual poeta (ou artista) considerado platônico, não ficaria se a sua musa chegasse no momento em que sua obra está sendo feita? Mas sorria, sim, sorria e parecia se deliciar com o sorriso dela também. Devia ter covinhas, ela, no canto da boca. Oh, sim, que belas seriam suas covinhas. E ele também, belo e com olhos bondosos, por que haveria ela de não sorrir para ele? Que talvez a amasse em segredo, quem sabe já não a observava a dias? E agora, que descoberto, mas não sem antes ter certeza de que era correspondido, poderia abrir o coração e os braços para ela, que tinha um sorriso para ele. E tinha um beijo também, que depois de algum tempo conversando, correu da boca dela para a dele. 
O pior de tudo, meus caros, é que talvez nunca saberemos o que estava naquele caderno e o que foi dito naquela conversa, naquele momento. Só que depois de tudo ela se foi, talvez para casa, assim como ele também, para a dele, talvez.



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