O sol já
tinha nascido quando uma mulher avistou alguém em cima de um prédio, sem
camisa, olhando para longe. Não viu nada de estranho no início: “acordou cedo e
quis olhar a cidade de cima” ela pensou. Logo outras pessoas também notaram o
homem – assumiram que era um homem pelo peitoral – que não se movia lá em cima.
Com um tempo
a polícia chegou e com ela alguns repórteres e muitos outros trabalhadores
pararam para acompanhar a situação que se passava. Boatos de que o homem
planejava se matar foram chegando cada vez mais alto aos ouvidos de uma
repórter, que feliz por ter conseguido chegar primeiro ao local, logo soltou
para a equipe na redação que o homem era cheio de problemas pessoais, ou algo
do tipo, fato que foi confirmado por “amigos” da família, pessoas que por
estarem em frente a uma câmera assumiram esta responsabilidade.
De repente
uma mulher apareceu e todos, pela cara que fizeram, assumiram que era a esposa
dele. Talvez fosse pedir perdão, ou então perdoar. Iria dizer a ele que os dois
poderiam viver ainda muito tempo juntos, que ele não precisava fazer nada
daquilo. E que tudo ficaria bem depois e todos poderiam voltar para suas casas.
Mas não. A mulher que apareceu vestida acabou ficando ao lado dele, olhando pro
mesmo ponto perdido, encostada no parapeito.
Então a
tensão recomeçou e agora a história ganhava novo personagem – e uma nova
versão: “casal apaixonado decide viver unido para a vida eterna”. Agora, a
história que era um drama egoísta passa a ser um romance romântico, daqueles
que os sentimentais sempre choram no final. Vendo que o único jeito de fazê-los
descer era subindo, um dos policiais tomou a dianteira e entrou no prédio.
Pouco tempo
depois estavam os três lá em cima, na beira da cobertura, observando o céu,
aquela beleza azul para onde os três supostamente planejavam ir. Sim, nem mesmo
com o oficial subindo para convencê-los, eles não desistiram da ideia. Pelo
contrário: agora o policial também tinha decidido cometer o suposto suicídio.
Lá embaixo todos ficavam mais apreensivos a cada minuto que se passava.
Cada vez
mais histórias eram criadas. Uns diziam que o homem era um psicólogo psicopata,
que convencia seus clientes de que a vida não valia à pena. Que a felicidade
seria encontrada apenas na morte, no mergulho para o eterno nada. Ou tudo. Quem
sabe? Então um movimento que chamou todos os olhares para cima de novo: o
tenente Rocha colocou um pé entre os apoios do parapeito e começou a acenar com
as mãos. Ninguém sabia o que ele queria decerto, aceitaram que era um pedido
para se afastarem. Eles iam pular e ele seria o primeiro.
Todos
esperavam que o mais novo pretendente a suicida saltasse de braços abertos para
a liberdade. Como um pássaro que voa entre as correntes de vento, mas nesse
caso não existiam asas. A gravidade o puxaria de vez para sua morte. E quando
todos, tristes e ansiosos com aquilo, abriram espaço no meio da rua, viram que
o policial tinha descido do parapeito e que o homem e a mulher tinham sumido de
vista. O que será que aconteceu? Desistiram?
Pela porta
saía um homem de uniforme e óculos escuro, sorrindo para todos. Quando abordado
pelos repórteres, ele respondeu:
– Ninguém
pretendia cometer suicídio, não. Estávamos todos enganados, ainda bem.
– Mas e o
que foi aquilo tudo lá em cima? Todos já tinham aceitado a ideia de que o
senhor seria o primeiro a saltar, todos esperavam por isso. O que aconteceu lá
em cima? – perguntou um repórter.
– Não, não.
Ninguém ia pular. Acontece que a vista é linda lá de cima. – disse o policial,
sorrindo, voltando pro carro.
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