quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Início do fim

Eu odiava brigar com ele. Ficar horas ao lado do telefone esperando ele tocar, decepcionando-me cada vez que atendia e não ouvia a voz dele. E eu, nesse meu orgulho idiota, por mais que minha maior vontade fosse de te ligar, nem que pra apenas pra ouvir tua voz, não ligava. Baixava o telefone e pensava: 'ele quem errou. Ele quem ligue." E ficava naquela agonia dia após dia. Como agora. E quais eram os motivos pelos quais a gente brigava? Ciúmes. Toda e qualquer vez que brigávamos era o mesmo de sempre. Como eu odiava (e odeio) isso. A última crise, realmente a última, deu-se porque eu convidei um amigo pra ver um jogo aqui em casa. Simplesmente. Como sempre, na frente do meu amigo ele concordou, disse que não havia problemas. Convidei-o também a sentar conosco e ver o jogo, mas ele disse que não podia porque não tinha tempo. Nem se despediu e foi saindo, batendo a porta. Fiquei preocupado com o modo que ele saiu e fui atrás, sem nem lembrar da visita. Eu fui atrás dele pelas ruas. Chamei várias vezes por seu nome, mas ele nem sequer parou. E nisso fomos até chegar à casa dele. Lá dentro o silêncio que ele me fez antes fez falta, de tantas palavras maldosas que ele me disse. Não consegui segurar as lágrimas enquanto ele falava e falava. Sempre levantando a voz. Nunca soube discutir sem se exaltar. Eu tentei de verdade conversar com ele, tentei fazê-lo entender que todo mundo têm amigos, e não havia motivos pra ele ter feito aquela cena. Depois de tentar convencê-lo a ir pra minha casa, conhecer o meu amigo, mas ele não quis. Estava cego de ciúmes e seus olhos eram fúria em um fundo de tristeza. Enfim desisti e decidi dá-lo um tempo pra pensar. Seria bom que ele dormisse, esfriasse a cabeça. Foi quando ouvi aquele disparo. Parei e voltei para ver o que já esperava e temia que tivesse acontecido: Afonso jazia no chão da sala. Toda aquela ira e ciúmes fora dissipada em um simples disparo contra a têmpora direita que o atravessou a cabeça. Perdi completamente o equilíbrio ao vê-lo ali. Tentei entrar e pegá-lo em meus braços, fechar seus olhos, mas a porta estava trancada por dentro. Não conseguia controlar as lágrimas que desciam. Sentei-me na porta de sua casa, tentando encontrar alguma força que me fizesse levantar. Quando enfim encontrei, já era tarde da noite, o trânsito estava quase parado. Fui a pé para casa, a fim de enfiar minha cabeça no travesseiro e dormir até não poder mais...

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