sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Cartas a Lianna - carta XII



O barulho do apito do trem me fazia lembrar os tempos em que nós corríamos juntos nos campos florentinos, e eu te pegava uma flor e a colocava em seus cabelos, pretos como a noite. E fazia isso simplesmente porque, mesmo quando bambino, já sabia apreciar a sua graça, e qual cor de rosa caía-lhe bem na pele branca. Brincávamos, oh, duas crianças inocentes. Você era a minha donna, e eu era o seu signore. Pegava-te pelos dedos, como se pega uma delicada rosa, mesmo com seus espinhos. Mesmo não sabendo do que o futuro guardava, prometemo-nos um ao outro. Promessa sem sentido, de criança. Vai saber o que se tem em mente um garoto de 8 anos, como eu era... Olhando pela janela vejo os mesmos campos em que corríamos todo o dia morrerem nas mãos desses novos homens. E os vinhedos, ah, aquele doce cheiro das vinhas. Tudo isso vai ficar para trás, agora que estou partindo neste trem. Não haverá mais brincadeiras, nem mais esconderijos, aliás, só o meu, e também o teu: para sempre escondida naquela cova fria e escura. Estou partindo, pois aqui, no meio dessas lembranças, meu peito dói por não poder repeti-las. E também porque preciso. O senhor meu pai há muito pede que o visite na velha Roma. Embora não goste de lá. Minha irmã se casará em breve, e aproveitarei essa chance para revê-los. Sim, todos eles, menos a senhora minha mãe, que não me deixou só um minuto e agora está ao meu lado, cansada. É a idade. Lembro também do tempo em que namoramos, ah, e que belos tempos eram aqueles. Mas deles agora só restaram as cartas que te escrevi, e minha dor de ter que lembrar. Não de todos, alguns não doem, mas outros irão me torturar para sempre, minha bela moça. Então é isso, o trem já corre em ritmo, e assim também devo eu. Assim como a primeira carta que te escrevi, quando ainda éramos pequenos, está não será a última. Madonna mia, para sempre serei seu prometido, assim como sempre fostes, até o dia de sua morte, minha Lianna.


Com amor, Giuliano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário