quinta-feira, 15 de março de 2012

Na cabana


Amanheceu chovendo. As lágrimas de Cook desciam e se confundiam com os pingos da chuva. Ali em frente, naquele caixão, estava garota que ele amou e disse que protegeria sempre. Sua cabeça estava nos momentos que eles passaram juntos. Não importava quais fossem: brigas, noitadas, risadas. Eles sempre davam risada no final. Ele não sabia quando encontraria alguém como ela. Radiante, sensível, forte. Gostava de ir à shows de rock com ele. Uma vez, lembrava ele, eles estavam voltando de uma dessas noites, entraram num barracão, já estavam bêbados àquela hora, e subiram num balcão, onde começaram a cantar e dançar, até que o dono do lugar chegou, e os colocou pra fora. Saíram correndo e rindo, ele com um litro na mão, talvez até seco, não perceberam, e foram direto pra cabana deles. Era um lugar onde só eles tinham a chave, onde se sentiam seguros e livres da pressão do mundo lá fora. Ela sempre dizia que, quando eles não pudessem mais se encontrar, deixaria a chave onde lembrasse dela, pra que ele não a perdesse.
Cook virou e correu para o lugar que sabia que poderia sentir que estariam juntos sempre. Colocou as mãos nos bolsos e sentiu uma pontada no peito: notou que havia perdido a chave e não conseguiu entrar. Suas lágrimas, que já haviam secado, voltaram a cair. Mas então ele ouviu a voz dela na cabeça, dizendo que a chave estaria onde ele lembrasse dela. Olhou pra cima, e lá estava, pendurada num prego atrás de uma ripa, a velha chave da cabana. Ele levantou e pegou a chave, abriu a porta e entrou, deitando num sofá velho que eles tinham arrumado por aí. E então, sentindo ali o cheiro dela, fechou os olhos e dormiu, sorrindo.

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