terça-feira, 20 de março de 2012

Anne & Sith


No começo eu estava com medo de que ela me visse. Por isso pus uma máscara, e a coloquei na cama, amarrada pelos membros. Seus olhos de pavor me davam uma tranquilidade enorme, e seus suspiros me faziam esquecer do mundo, como se lançassem em meu corpo doses de endorfina. Sua pele branca, lisa, encantava-me a cada dia, enquanto aos poucos eu a pintava de vermelho. Não a privava de sono ou comida. Depois de uns tempos a gente já conversava: ela me perguntava o porquê de eu tê-la pego, e eu respondia sempre o mesmo: eles disseram que era você... Eu a cortava devagar, era prazeroso sentir a lâmina descendo por sua perna, pintando todo o branco de vermelho. No início eu a deixava lá, sangrando por horas. Mas depois de um tempo, olhando pros seus olhos escuros que, não demonstravam mais nenhum pavor, não senti mais essa necessidade de ver os pingos de sangue caindo da perna dela, e passei a tratar. Por alguma razão eu me sentia diferente com ela. Lavei seu rosto e limpei as feridas que foram abertas por mim. Não usava mais máscara, agora eu me sentia bem, e conversava com ela. Mas eu não cheguei a pedir desculpas. Ela me olhava estranho, não parecia sentir ódio. Eu a desamarrei, mas ela não quis ir embora. Parecia agora querer ficar ali, comigo. O que eu não entendia, já que no início ela estava tão horrorizada. Ela tocou meu braço, e o percorreu com seu dedo. Ela pegou a faca e traçou uma linha em meu braço. Como se soubesse, e logicamente sabia, o que eu sentiria, sorriu. No momento em que a lâmina descia meu braço, eu me senti bem. A dor era prazerosa. Então ela me deu a faca, e estirou a outra perna. Desci a faca, devagar, observando o sangue escorrer. E sua face era de uma tranquilidade comparada à minha, e não se via nenhuma dor em seu rosto, nenhum sinal de sofrimento. Foi aí que eu percebi, que ela era igual a mim.

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