segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Valsa da Morte

          Tenho 22 anos e estou amedrontado. Tudo está escuro ao meu redor. O ar fica mais pesado a cada segundo, e eu ainda ouço aqueles sussurros... Ah! Sinto uma mão gelada tocar meu rosto - mas como pode? Estou totalmente enrolado. De quem pode ser esse tão gélido toque, que me arrepia a espinha? Tento me acalmar, mas respirar é difícil. Uma voz sensual e tentadora, de mulher jovem, chama-me para dançar uma valsa. Triste, melódica. Tomo fôlego, concentro-me. Tiro o lençol e me deparo com uma face pálida e totalmente branca, com os lábios vermelhos, e olhos castanhos, com uma sedução incrível. Não, não é um sonho. Eu sinto o toque macio de seus dedos, e sua expiração fria, morta...
           Levanto-me, não resistindo àquela bela donzela, de vestido branco, seios não palpitantes, num decote sedutor, tomo-lhe a mão, e entre olhares e passos, começamos nossa valsa. Luzes! Um piano ao fundo, onde um senhor de terno e chapéu pretos toca finamente, e sorri, aprovando a nossa dança noturna. De repente, outros casais nos acompanham, na doce melodia do piano, branco e brilhante, assim como minha acompanhante.
           Um fio de medo. Um líquido quente. O chão vermelho. Pelas mangas de meu terno, pinga o meu sangue. Quente. Doce. Vermelho. Mesmo assim, eu me vi bem, estando aqui com ela. A moça que tem um sorriso triste, mas os olhos alegres. Vi que não era o único, tanto outros homens quanto mulheres, também sangram. De alguma forma, eu me sinto bem. Suas mãos frias agora me acalmam. Mais um sopro frio, e então nossos lábios se tocam num beijo doloroso e ardente. Ela me rouba o ar, e eu sinto uma dor prazerosa, enquanto meus pulmões ardem, pedindo por oxigênio, e ela enrosca sua língua na minha.
           E então tudo some aos meus olhos! Um cemitério no monte é agora onde estou, olhando para uma lápide: "Aqui jaz, Millena Khosvouz", escrito em russo. E ao lado, outra lápide com um nome conhecido: "Aqui jaz, Karz Malineck", também em russo. É a minha lápide.
           Sinto um toque em minha mão, é ela. E em cima do túmulo, dançamos nossa última dança: A Valsa da Morte.



*Texto para Bloínquês.

4 comentários:

  1. Texto impactante!
    Vc escreve super bem!

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  2. Nossa, que texto mais instigante! Eu realmente gostei muito daqui. :)

    http://miasamarah.blogspot.com/

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  3. Na moral, sem palavras .-.
    Seu blog é incrível e esse texto mereceu muito ter vencido, intrigante, perigoso, sedutor e desfiadaor. Parabéns, de verdade :)
    http://pluralissimo.blogspot.com

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