quarta-feira, 17 de abril de 2013

As fases de Amanda: um pouco do outro lado


Ele estava sentado num banco sob uma árvore, observando. Vez e meia olhava as horas no seu Chopard e então voltava a observar a rua. Às vezes parecia impaciente, pegava o celular e ia passando as fotos, analisando cada uma por um tempo. Não fazia barulho, tanto que as pessoas quase não o notavam ali. De repente ele se pôs de pé, como se alguém o tivesse chamado, mas ninguém o chamou. 'Chegou a hora', pensou, começando a procurar o número dela no seu celular. Quando a viu saindo da escola um sorriso se formou em seus lábios, e seus olhos fundos pareciam queimar de excitação, observando atentamente cada passo que Amanda dava em direção à parada de ônibus.
Enquanto digitava uma mensagem, não tirava os olhos dela, adquiriu essa habilidade de tanto a repetir, e então enviou: 'voltando pra casa agora amanda?' Esperou um pouco, sempre mantendo os olhos nela, e viu quando a mensagem foi recebida: ela tirou o celular da bolsa e enquanto lia olhava para todos os lados, a fim de tentar encontrar quem tinha enviado a mensagem, mesmo sabendo que seria inútil. Seu sorriso ficou maior a cada minuto que ele a via ali, sem saber pra onde olhar e assustada com aquela mensagem que não sabia de quem era.
A noite havia caído e a luz da lua era de uma beleza gigantesca. O vento frio soprava não muito forte, mas forte de mais para ser uma brisa, e levava os cabelos de Amanda pra trás, e ah, como ela gostava daquilo. As luzes da casa de shows quase a cegaram quando ela entrou e procurou alguém conhecido lá dentro, só pra não ficar sozinha. Não queria nem ter saído de casa, mas era a festa de sua prima, e ela não quis faltar. Usava um vestido branco e salto não muito alto, e luvas de seda branca e cetim. Quando enfim encontrou alguns amigos sentou com eles e conversou e riu com eles. Dançou pouco, gostava mais de dançar sozinha, quando ninguém mais podia vê-la errar alguns passos e cair de bunda no chão.
Seu celular vibrou e ela abriu a bolsa para pegá-lo, temendo que fosse o número estranho que a mandara mensagem mais cedo, e que sempre a deixava louca, olhando para todos os lados procurando alguém que pudesse estar vigiando. E era. E a mensagem a fez relembrar um sonho seu que lutava para esquecer de vez: 'você está linda hoje Amanda. ñ quer dançar comigo?' Ela sentiu um arrepio passar por todo o seu corpo e seus olhos viravam para todos os lados, como se tivessem vida própria.
Levantou-se e só não corria porque não havia muito espaço, mas estava indo em direção à porta, quando de repente alguém tocou em seu braço: todos os seus medos não foram iguais ao que ela sentiu nesse momento, mas quando virou o rosto e viu que era apenas um de seus amigos, ela correu e se aninhou no peito dele.
Depois que a deixaram em casa, agora mais calma, ela foi direto pro quarto e pulou na cama, nem sequer tirou o vestido. Enfiou a cara no travesseiro e foi dormir, torcendo pra não sonhar.


Imagem disponível em: http://www.percepolegatto.com.br/2011/12/25/memorias-de-gentis-predadores/

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