quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O quadro - A noite na pensão.
















Tudo começou quando o dono da pensão comprou um quadro. Bonito, cheio de árvores,uma paisagem bonita, e também algo que chamou atenção: uma garota, vestida de preto, olhando o chão, com expressão triste, como se estivesse sentindo falta de alguém, entre as seringueiras. Depois disso, minhas noites nunca mais foram normais. Eu nunca parei pra pensar o que era, mas todo fim de tarde, ouvia uns choramingos, pensava que eram as crianças da pensão, chorando com fome ou sono, no colo de suas mães. E é sobre uma dessas noites, que vou lhes contar agora.
Estava sentado em minha cama, quando o choro começou, era um choro triste, amargo, um choro de decepção. Levantei tremendo, e abri uma brecha da porta, devagar, temendo o pior. Vi que um rapaz se aproximava do quadro, chegando mais perto do quadro. A menina parecia derramar um rio em lágrimas, e isso assustava tanto, quão também chamava o rapaz, que de curioso não tinha cara, mas àquilo não resistira. Percebeu também que as folhas das árvores se moviam, e que o sol se escondia entre as nuvens, lá atrás das montanhas, e quando deu por si, se via lá dentro, ao lado da menina, e pude ouvir os gritos do pobre garoto. Na hora do jantar, ninguém ficava perto do corredor dos quartos, então eu era o único que via a cena horrível do curioso entrando no quadro, sem mais nem menos. A noite havia chegado, e eu nem percebi, perdi o apetite com o acontecido, sabia que não ia ter uma noite de paz -nunca mais- a não ser que eu tentasse acabar com tudo, mas como conseguiria fazer sumir o quadro, sem o dono da pensão perceber? Estava decidido que teria que entrar no quadro e suportar o que com certeza iria doer, pelo que ouvi pelo menos. Teria que pedir para a garota parar com isso, e tentar trazer o rapaz de volta. Fui tentar dormir.
Quando amanheceu, o sol estava escondido pelas nuvens, e tudo voltara ao normal, pelo menos até à tarde, quando eu teria que entrar no maldito quadro. Então, quando finalmente todos foram jantar, eu caminhava para perto do quadro, e já ouvia os choros dela. Parecia já lamentar por mim, como se adivinhasse o meu pouco futuro. E num piscar de olhos, lá estava eu, na terra molhada, e ao longe, a garota chorava. E uma fúria inexplicável me empurrava para o lado direito, onde havia paz e harmonia, mas a garota me mostrava o outro lado, onde havia caos e escuridão. Sem saber o por que, comecei a correr para onde ela apontava, mas a fúria era forte, eu resisti, até perceber que estava na pensão, e uma moça perguntava se eu estava bem, porque ouvira meus gritos, no corredor. Eu estava desnorteado, e tentava entender o que aconteceu ali. Ela me disse, sem mais nem menos, que o lado esquerdo do quadro representava o mundo, um caos, e o lado direito do quadro, representa o que chamamos de Paraíso.

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